sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

MÃE SENHORA



MÃE  SENHORA


Maria Bibiana do Espírito Santo, mais conhecida como Mãe Senhora, Oxum Maiwá, terceira Iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonhjá, nasceu em Salvador no dia 31 de março de 1890 e faleceu na mesma cidade  em 22 de fevereiro de 1967.

As Iyalorixás do Ilê Axé Opô Afonjá  são, por cronológica: Mãe Aninha (1910 a 1938), Mãe Bada (1939 a 1941), Mãe Senhora (1942 a 1967), Mãe Ondina ou Mãezinha (1969 a 1975) e Mãe Stella (desde 1977).

Filha de Félix do Espírito Santo e Claudiana do Espírito Santo, Mãe Senhora descende da família Asipá, uma família nobre originária de Oió (Nigéria) e Ketu (Benim). Sua avó, Marcelina da Silva, Oba Tossi, foi uma das fundadoras da  primeira casa de candomblé no Brasil (isto é, do Ilé Axé Airáintile, ou “Candomblé da Barroquinha”, depois “Casa Branca do Engenho Velho”, em Salvador).

Foi iniciada em 4 de novembro de 1907, com 17 anos de idade, pela Ialorixá Mãe Aninha, em sua casa na Ladeira da Praça, no Pelourinho, que lhe entregou a cuia com faca, tesoura e navalha. A navalha pertenceu a sua avó, fundadora do primeiro Candomblé no Brasil.

Em 2 de dezembro de 1917, casou-se com Arsênio dos Santos com o qual teve um filho único, Deoscórides Maximiliano dos Santos, conhecido como Mestre Didi.

Mãe Senhora manteve uma barraca na rampa do antigo Mercado Modelo, conhecida como “A Vencedora”. Alí chegava bem cedo, entre 8 e 9 horas da manhã, para vender frutas (manga doce, manga rosa, manga espada, araçá, tamarindo, mangaba), bolachinhas de goma,   manuês, cocada pucha,   cocada  preta, cocada branca e  doces diversos. Às 2 ou 3 horas da tarde Mãe Senhora deixava a  barraca e voltava para casa levando as compras do dia (rabanada, fígado, peixe fresco e outros mantimentos).  Fora do terreiro não usava roupas de obrigação. Sem  os aparatos do preceito,  comparecia na sua barraca e  nas ruas de Salvador. Camafeu de Oxossi apresentou Jorge Amado a Mãe Senhora e a partir de então Jorge Amado começou a frequentar a barraca. Logo se tornaram  grandes amigos.

A respeito desta Iyalorixá que marcou época na história do culto afro-brasileiro, disse Mãe Stella, apud Agenor Miranda: “Quando a conheci, Senhora  já era uma mocinha, era uma verdadeira rainha. Sabia ser dócil e meiga mas, também, sabia impor respeito, quando necessário fosse. Todos respeitavam muito Senhora. Eu era muito amigo dela e ela minha amiga, mas eu sempre a respeitei porque os antigos sempre tinham em mente a hierarquia e ela era mais velha do que eu. Era minha irmã, porque fomos feitas por Aninha, mas quando eu a conheci, ela já tinha um cargo dado por minha mãe Aninha, dentro do Axé.”

Jorge Amado relatou cheio de emoção a  morte de Mãe Senhora: 
“O enterro da iyalorixá saiu da Igreja de Nossa Senhora dos Negros, no Largo do Pelourinho, praça ilustre e sofrida, chão de pedras regadas pelo sangue dos escravos ali sujeitos ao tronco e ao pelourinho. O corpo da mãe-de-santo ficou exposto na tarde de um domingo de sol e de tristeza. A notícia ia sendo propagada de boca em boca, pois a morte sucedera após os jornais. O impacto retirava gente das praias, das diversões, do descanso dominical. De todas as encruzilhadas surgiam pessoas atônitas e apressadas;  no átrio da igreja toda azul se misturavam homens e mulheres das mais diversas condições sociais no mesmo espanto doloroso.” 

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