quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

143- ARTHUR DE SALLES




Arthur Gonçalves de Salles, mais conhecido como Arthur de Salles, poeta, tradutor e escritor, nasceu em Salvador no dia 7 de março de 1879, sendo seus pais Severiano Gonçalves de Sales e Maria Eufrosina de Aragão Salles.

Desde criança, exercitou  seus dotes artísticos e literários.

Estudou as primeiras letras em sua terra natal, onde se formou pela Escola Normal da Bahia, no final de 1905.

Escreveu seus primeiros versos aos 13 anos, quando estudava no Colégio Carneiro Ribeiro. Esses primeiros versos, diz Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz, são “versos voltados para a contemplação da natureza, e refletem a forte ligação que ele teve com o mar: o mar da baia de Todos os Santos, de sua infância, vivida na Cidade Baixa onde nasceu; e depois,  o mar da Vila de São Francisco, no Recôncavo baiano, local onde residiu durante alguns anos”.

Aos 22 anos criou,  com outros jovens, a “Nova Cruzada”, agremiação  que divulgou  durante quase dez anos a produção  literária de seus fundadores. Arthur Salles foi seu presidente, nos anos de 1913 e 1914..

Em 1908, foi nomeado bibliotecário da Escola Agrícola da Bahia, situada em São Francisco do Conde. Escreveu, nesta época, várias poesias, recitadas nos serões e recitais que participou, ao lado de
Amélia Rodrigues e outros poetas,
 .
A revolução de 1930, fechou a Escola Agrícola deixando  Artur Sales em disponibilidade.

Em 1935, foi nomeado professor adjunto da Escola de Aprendizes de Quissamã, nas proximidades de Aracaju (Sergipe). Nos  anos em que esteve em disponilidade, ensinou francês, português e história no Instituto Bahiano de Ensino, em Salvador,

Em 1949, foi eleito “Príncipe dos Poetas Baianos”.

Arthur de Salles foi um dos  membros fundadores da Academia de Letras da Bahia  e  fez parte da  Associação Brasileira de Escritores.  Sua tradução de Macbeth, de Shakespeare, é a única  em versos rimados, na língua portuguesa.

“Meu primeiro contato  com a obra de Arthur de Sales, disse Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz, foi em 1991, quando cursava, como aluna especial, o Mestrado em Letras da Universidade Federal da Bahia”. Desde então o interesse pela produção literária do   poeta
foi crescente. Arthur de Salles não compilou toda a sua obra em livros, deixando, ao morrer, uma vasta produção dispersa. Colaborou em diversos jornais e revistas literárias, como: “Gazeta do Povo”, “O Imparcial”, “Diário da Bahia”, “Nova Revista”, “Nova Cruzada”, “Os Annaes”, “Arco e Flexa”, “Renascença”, “A Luva”, “Bahia Ilustra”, dentre outros.

Homem simples, não gostava de exibicionismo. Em 1920, seus amigos reuniram suas poesias em um livro intitulado “Poesias”. Em 1928, Arthur de Salles publicou o poema dramático “Sangue-mau” (reeditado em 1949, juntamente com “O ramo da Figueira”.)

Sua poesia tem dois traços fortes: a Religião e a Natureza.

Para Lafaete Spínola, “o sentimento religioso, que se desprende, vago e profundo, de seus versos, é um prolongamento do culto à Natureza, que é nele uma religião”. Para Cláudio Veiga, “o sentimento religioso presente em sua poesia é a velha religião dos colonizadoes, o catolicismo. As festas religiosas populares, como o Natal e o São João, são presenças marcantes em sua poesia, cujo poema “O Ramo da Fogueira” é um dos representantes”. Rita de Cássia Ribeiro acrescenta:  “Além disso, Arthur de Salles escreveu versos à Virgem, bem como hinos religiosos: “Hino ao Senhor do Bonfim”, conhecido popularmente na voz de Caetano Veloso, e “Hino à Nossa Senhora da Conceição da Praia”. Note-se que este poeta residiu  no Convento de Nossa Senhora das Brotas, em São Francisco do Conde e ocupou a mesma cela que o poeta Junqueira Freire.

No que ser refere à Natureza, e, de modo especial,  ao mar, lembra Rita de Cássia Ribeiro:  “Eugênio Gomes inspirou o poeta a escrever alguns dos mais belos poemas marítimos da literatura brasileira.  O mar, que batia na soleira da sua casa de infância, está presente em muitos dos seus poemas, seja como cenário de morte, seja como cenário de uma radiosa visão. Não só o mar, puro e simples, figura em seus versos, como os elementos que fazem parte dele ou que desfilam por ele: peixes, moluscos, conchas e embarcações”.  “Arthur Sallles, declara Lafaiete Spínola, faz versos como quem tem medo. Sente o infinito dos mistérios da natureza, compreende o pavor do desconhecido, alcança a imensidade do sofrimento humano, e se estarrece diante de sombras  que lhe parecem hostis. Vultos e fantasmas são-lhe os companheiros eternos, a segredar-lhe tragédias incruentas”.

Arthur Salles faleceu em Salvador, no dia 27 de junho de 1952 
Raul Sá, que  desfrutou de sua amizade, disse:   “Èstás  vivo, Arthur de Salles, e continuarás redivivo em tua Bahia, que compreende, ama e vive a tua Poesia!”.
Arthur de Salles é patrono das Academias de Letras de Ilhéus e de Santp Amaro da Purificação.



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O ÚLTIMO

Sonetóes, sonetinhos ou sonetos
não cancei o leitor com versalhada
De légoa e meia ou de légoa de estrada
Batida de avejões rubros e pretos

Quatorze linhas só, na forma usada:
Deduzidas as duas dos tercetos,
Lidas em quatro fôlegos diretos
Um sorvo, um trago, um ai! uma pitada...

Cada qual, sendo mau, dura mui pouco...
Se é bom, lembra um sorvete que se peça
Mignon, de creme, de baunilha, ou côco.
Dobra-e a dose, mal não faz, nem dura!
Sem ser pesado, ao estômago e à cabeça,
não dá lugar ao sono na leitura,,,


TROVAS

O coração que não ama
é como noite sem lua,
é como um barco sem vela,
sozinho, na praia nua.

Sou pescador sem ventura,
Desgraçado pescador:
Lanço a rede da alegria
e apanho o peixe da dor.

Livrei-me da tesmpestade,
da cerração, dos escolhos.
Mas acabei naufragando
no recife dos teus olhos.







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