Francisco Moniz Barreto, mais conhecido como Moniz Barreto, o maior poeta repentista do Brasil, nasceu na vila de Jaguaribe, no dia 10 de março de
1804.
Com 18 anos, alistou-se no exército para lutar pela Independência. . “Nesta altura
da vida, disse Sílvio Romero, ele já era o que sempre foi: a mais assombrosa
personificação do talento improvisatório do Brasil”.
Depois de lutar pela Independência, participou da Campanha Cisplatina. De regresso ao Brasil, fixou
residência no Rio de Janeiro onde permaneceu até 1838, ano em que voltou para a
Bahia.
No Exército chegou a segundo tenente e neste posto passou para a reserva. Depois, ocupou o lugar de
escriturário da Alfândega da Bahia, aposentando-se em 1862.
Em torno de sua pessoa gravitaram Agrário de Meneses, Augusto de Mendonça,
Junqueira Freire, Pessoa da Silva, Rodrigues da Costa, Gualberto dos Passos,
Laurindo Rabelo e outros poetas do seu tempo.
Em 1855, publicou um livro de
poesias, intitulado “Clássicos e Românticos”, considerado como de pouco valor. Em
1864, pouco antes de morrer, editou “Album da Rapazeada”. Neste último, o aspecto erótico é indiscutível e o comercial ficou bem claro:,
Rapazes, o vosso álbum/Aqui,
afinal, vos dou;/Comprai-o todos, comprai-o/
Lede-o bem, e decorai-o/ Que bem lidas me
custou. /É mais útil este livro
Que gazetas de aranzéis; /Nem há
coisa mais barata:/ Em papel, ou cobre, ou prata –
É seu preço dois mil réis. /Com
eles, deveis, rapazes, /Ao poeta responder,
Que, por falta de dinheiro,/ O
ano passado inteiro /Levou triste sem fod.....!!
Se eu for feliz nesta empresa, /Que
em vós fiado, intentei – /Para obras muito pano
Tenho ainda – e cada ano/ Novo
álbum vos darei. (s.d., p. 5;6;8)
“Moniz Barreto, diz Sílvio Romero, desenvolveu de maneira natural e facilmente seu talento para improvisos. Ouvido o mote, o poeta, que era
um homem de altivo porte e fisionomia simpática, alguns momentos depois
erguia-se, empalidecia fortemente e brotavam-lhe dos lábios em declamação
acentuada, nítida e nervosa, versos correntes e límpidos como se fossem decorados. Nessa superexcitação o suor molhava-lhe a fronte;
mas a serenidade aparente era perfeita. Improvisados uns versos, nunca
mais os esquecia”
O improviso em Moniz Barreto era realmente espontâneo.
Certo dia o poeta estava em
casa do cônsul português, onde igualmente estava Emília das Neves,
talentosa atriz lusitana. Ao ver a
artista, o poeta recitou este soneto:
:
"Por sábios e poetas sublimado
Teu nome ilustre pelo orbe voa;
Outra Ristori a fama te apregoa,
Outra Raquel no português tablado.
Teu nome ilustre pelo orbe voa;
Outra Ristori a fama te apregoa,
Outra Raquel no português tablado.
Ao teu poder magnético, prostrado,
O mais rude auditório se agrilhoa:
Despir-te a fronte da imortal coroa
Não pode o tempo, não consegue o fado.
O mais rude auditório se agrilhoa:
Despir-te a fronte da imortal coroa
Não pode o tempo, não consegue o fado.
De atriz o teu condão é sem segundo;
Na cena, a cada instante, uma vitória
Sabes das almas conquistar no fundo.
Na cena, a cada instante, uma vitória
Sabes das almas conquistar no fundo.
Impera, Emília! É teu domínio — a história;
Teu sólio — o palco; tua corte — o mundo;
Teu cetro — o drama; teu diadema — a glória."
Teu sólio — o palco; tua corte — o mundo;
Teu cetro — o drama; teu diadema — a glória."
Emília das Neves, emocionada, cedeu a um impulso natural, abraçou o poeta e depositou um beijo em sua testa encanecida. Moniz Barreto, agradecendo, declamou:
"Como, sendo tu das Neves,
Musa, que vieste aqui,
Assim queima o peito à gente
Um beijo dado por ti?!
Musa, que vieste aqui,
Assim queima o peito à gente
Um beijo dado por ti?!
O que na face me deste,
Que, acendeu-me o coração,
Não foi ósculo de — neves,
Foi um beijo de vulcão.
Que, acendeu-me o coração,
Não foi ósculo de — neves,
Foi um beijo de vulcão.
Neves — tenho eu na cabeça,
Do tempo pelos vaivéns;
Tu és só Neves no nome,
‘Té nos lábios fogo tens.
Do tempo pelos vaivéns;
Tu és só Neves no nome,
‘Té nos lábios fogo tens.
Beijando não és — das Neves;
Do sol, Emília, tu és;
Como neves se derretem
Os corações a teus pês.
Do sol, Emília, tu és;
Como neves se derretem
Os corações a teus pês.
O meu, que — neve — já era,
Ao toque do beijo teu,
Todo arder senti na chama,
Que da face lhe desceu.
Ao toque do beijo teu,
Todo arder senti na chama,
Que da face lhe desceu.
Errou quem o sobrenome De
— Neves — te pôs, atriz,
Que é das lavas, não das — neves,
Minh’alma, acesa, me diz.
— Neves — te pôs, atriz,
Que é das lavas, não das — neves,
Minh’alma, acesa, me diz.
Chamem-te embora — das Neves;
— Vesúvio — te hei de eu chamar,
Enquanto a impressão do beijo,
Que me deste conservar.
— Vesúvio — te hei de eu chamar,
Enquanto a impressão do beijo,
Que me deste conservar.
Oh! se de irmã esse beijo,
Produziu tamanho ardor,
Que incêndio não promovera,
Se fora um beijo de amor!…
Produziu tamanho ardor,
Que incêndio não promovera,
Se fora um beijo de amor!…
Não te chames mais --
das Neves, Mulher, que abrasas assim;
Chama-te antes das Luzes,
E não te esqueças de mim.
Chama-te antes das Luzes,
E não te esqueças de mim.
Se me prometes, Emília,
De hora em hora um beijo igual,
Por sobre neves ou fogo
Dou comigo em Portugal."
De hora em hora um beijo igual,
Por sobre neves ou fogo
Dou comigo em Portugal."
Francisco Moniz Barreto faleceu em Salvador no dia 2 de
junho de 1868, deixando um a famíia de artistas, onde se destacam Francisco
Moniz Barreto Filho (exímio violinista) e Rosendo Moniz Barreto (poeta e orador
de renome).
Muito interessante resumo biográfico desse interessante personagem baiano. Ele é considerado, também, autor de modinhas. A musicista Julia Brito de Mendes em seu interessante livro "Canções Populares do Brazil", J. Ribeiro dos Santos: Editor, Rio de Janeiro, 1911, atribui a ele a famosa modinha "Hei de amar-te até morrer", apresentada com anônima por Mario de Andrade em "Modinhas Imperiais" e considerada por outros (como Manuel Veiga) de Francisco José Martins (c.1815-c.1870).
ResponderExcluirQue a pesquisa traga mais dados sobre nossos talentos do passado.
Muito interessante resumo biográfico desse interessante personagem baiano. Ele é considerado, também, autor de modinhas. A musicista Julia Brito de Mendes em seu interessante livro "Canções Populares do Brazil", J. Ribeiro dos Santos: Editor, Rio de Janeiro, 1911, atribui a ele a famosa modinha "Hei de amar-te até morrer", apresentada com anônima por Mario de Andrade em "Modinhas Imperiais" e considerada por outros (como Manuel Veiga) de Francisco José Martins (c.1815-c.1870).
ResponderExcluirQue a pesquisa traga mais dados sobre nossos talentos do passado.