José de Assis Valente, mais conhecido como Assis Valente,
nasceu, ao que parece, em Santo Amaro da Purificação em 19 de março de 1911, sendo seus pais
José de Assis Valente e Maria Esteves Valente.
Para ser exato, não sabemos ao certo a data do nascimento
deste estranho compositor. Alguns dizem que ele nasceu no dia 19 de março de
1908; outros, afirmam que seu nascimento foi em 19 março de 1911. O local
também é incerto: ora ele dizia que nasceu quando sua mãe fazia uma viagem de
Bom Jardim para Patioba; ora dizia que nasceu em uma casa no Campo da Pólvora, em Salvador.
Assis Valente foi sequestrado por um certo
Laurindo e entregue à família Canna
Brasil, em Alagoinhas. Esta família lhe ensinou as primeiras letras e lhe deu “uma ocupação algo extenuante”.”Trabalhei
como um condenado, dizia ele, Minha patroa me tratava quase como um escravo e
à noite me obrigava a estudar. Depois, ela se mudou para o Rio de Janeiro e eu
tive de me virar sozinho. A felicidade é que encontrei uma vaga de lavador de
frascos na farmácia do Hospital Santa Izabel...”
Seu trabalho entusiasmou um padre que freqüentava o hospital
e ele levou o jovem Assis para Bonfim, empregando-o na farmácia de um
hospital, onde acabou se transformando secretário do Diretor. Sendo grande admirador de Castro Alves e Guerra Junqueiro, foi
chamado para declamar em uma quermesse, ocasião em que recitou versos anticlericais, revoltou seus
superiores e acabou demitido.
Desempregado, seguiu um circo mambebe. Certo dia, aproveitando o intervalo de uma apresentação circense, pulou
para a picadeiro e declamou uma poesia de sua autoria. Agradou tanto que se tornou orador e comediante e como tal andou pelo interior da Bahia, de cidade em
cidade, durante cerca de um ano. Ao cabo deste tempo voltou para Salvador,
retomou os estudos, trabalhou como ajudante de farmácia e aprendeu desenho no Liceu de Artes e Ofícios.
Ao mesmo tempo fez dentaduras com um protético amigo.
Em 1927, mudou-se para o Rio de Janeiro onde trabalhou como
protético e conseguiu publicar e vender alguns desenhos.
Nos anos trinta começou a compor algumas canções. A primeira foi “Tem Francesa no Morro”, cantada ´por Aracy Cortes. Pouco a pouco suas criações alcançaram sucesso entre os grandes intérpretes da musica popular, como Carmem
Miranda, Orlando Silva e Altamirando Carrilho.
Seu repertório é um dos mais extensivos. Assis Valente
compunha quase uma canção por dia; muitas foram vendidas a preço vil e os compradores figuram como autores. Também
são de sua autoria peças para o teatro de revista,
Pressionado para pagar uma dívida que contraiu com Elvira
Pagã, tentou o suicídio, pela primeira vez, cortando os pulsos. Em 1941 tentou
o suicídio, mais uma vez, saltando do Corcovado. Algum tempo depois,
pressionado pelos credores, tentou quitar seus débitos, sem resultado.. Diante
do insucesso, sentou-se em um banco de rua e ingeriu formicida.
Depois de morto, caiu no esquecimento mas nos anos sessenta
suas produções voltaram a ser cantadas, por grandes intérpretes tais
como Chico Buarte, Maria Bethânia, Elis Regina, Adriana Calcanhote, etc.
Sua morte foi muito sentida por amigos e admiradores. Um
deles fez o seguinte comentário:
“Para quem conhecia mais intimamente Assis Valente, sua
morte, apesar de inesperada, não se constituiu exatamente em surpresa; pois ele
já tentara o suicídio outras vezes, Nos últimos tempos adotara um tom de
lamentação e acusação contra tudo e todos. Vivia angustiado e atormentado,
sentindo-se injustiçado e abandonado pelos amigos. Pela sua trajetória de
menino pobre, mulato e com pouca instrução formal, alcançar fama e sucesso para
suas músicas nas vozes dos mais destacados cantores e cantoras brasileiras,
cair novamente na pobreza e no esquecimento era insuportável. O suicídio foi o
fim para o que ele considerava uma vida desgraçada, onde a solidão sempre foi uma
companheira constante. Sempre fora assim, desde quando, muito garoto, foi afastado
do convívio de seus pais e irmãos”.
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