sábado, 29 de março de 2014

ANTONIO FERREIRA FRANÇA


UNIVERSIDADE DE COIMBRA
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Antônio Ferreira França, médico, político, matemático, filósofo e professor, nasceu em Salvador, no dia 14 de janeiro de 1771, sendo seus pais Joaquim Ferreira França e Ana Inácia de Jesus França.

Fez os estudos iniciais em sua cidade natal, após o que, contra a vontade paterna, seguiu para Portugal onde, na Universidade de Coimbra, realizou os cursos de Medicina, Matemática e Filosofia. 

Dotado de inteligência invulgar, demonstrou excelente aproveitamento. Seu conceito foi de tal ordem que o Professor José Monteiro da Rocha “dedicou-lhe uma aula de Astronomia, apesar de ser um único aluno”.

Formado, recebeu o convite para exercer o magistério naquela Universidade, o que recusou, regressando ao Brasil.

Regressando a Salvador,  foi designado, por Carta Régia de D. Maria I, para lecionar Aritmética e  Geometria. Depois, em 1810, foi momeado Lente Visitador das Escolas Régias da Bahia. Em 1812, foi agraciado com o Hábito da Ordem de  Cristo. Em 1815, foi designado  para lecionar Higiene, Etiologia, Patologia e Terapêutica na Escola Médico-Cirúrgica da Bahia.

Ferreira França é considerado um pioneiro da homeopatia, pois em suas aulas tecia comentários  sobre esta conduta terapêutica.

Após a Independência, dedicou-se à vida políica. Foi membro do Conselho Provincial (1822), Deputado Constituinte (1823, e  outras legislaturas). Como deputado, apresentou, na sessão de 16 de junho de 1831, o primeiro projeto de lei visando a abolição da escravatura. Em quatro  outros projetos, propôs a extinção das guerras, do cilibato clerical, do regime monárquico e da pena de morte.

Quando da proclamação da Independência, ele era membro do Conselho Municipal e partidário da separação. Enquanto quase todos se retiraram para o Recôncavo, Ferreira França permaneceu em seu posto, em Salvador, desafiando Madeira de Melo.

Em 1832, assumiu a cadeira de Patologia Interna na Faculdade de Medicina e, em 1837, passou a ensinar Grego e Geometria no Liceu Provincial (do qual foi diretor, de 1841 a 1848).

Em 1835, por ocasião da minoridade de D Pedro II, Antônio Ferreira França, eleito deputado pela Bahia, apresentou, na sessão da Câmara Legislativa em 16 de maio daquele ano, projeto de lei abolindo a monarquia, Em três parágrafos, propôs o fim do regime monárquico, a suspensão dos direitos de seus herdeiros e a forma como o país deveria escolher seus dirigentes (de dois em dois anos, no dia 7 de setembro). O projeto provocou grande celeuma. O General José de Abreu e Lima, monarquista ferrenho, denunciou ao povo brasileiro “o maior atentado que, nas atuais circunstâncias, poderia cometer um seu representante” O General lançou, pela Tipografia Niteroi, o “Bosquejo Histórico, Político e Literário do Brasil”, com o sub´título “Análise crítica do projeto do Dr. Antônio Ferreira França, oferecido em sessão de 16 de maio último”.

A primeira vista, disse Rodolfo Teixeira em sua “Memória Histórica da Faculdade de Medicina da Bahia", a sua singular figura física não denunciava ao observador, os valores intelectuais de que era dotado. Um seu contemporâneo, o autor de “A Moreninha”, o Dr. Manoel de Macedo, descreveu assim esse cidadão lendário da Bahia: “de baixa estatura e magro, trajava sempre vestes que poderiam servir a homem alto e gordo, a gravata que usava era tão longa que nela escondia, abaixando a cabeça, o queixo até o nariz: ah, sim, a gravata – só uma vez o laço era feito, quando a comprava, depois era só enfiá-la até que os tempos a consumissem”.  O mesmo A. completa, na mesma fonte: “Um dos seus traços mais característicos era a concisão. Não gastava uma palavra sequer a mais quando se dirigia a alguém. Atingia extremos. E nem sempre se dava bem. Foi o que aconteceu com uma solicitação que fez ao Imperador D.Pedro I. Pretendia ser médico de Sua Magestade, a quem dirigiu um sumário e sumítico requerimento. “Querará Vossa Magestade me nomear seu médico?”. E nada mais. À resposta foi pronta, brevíssima, através de uma única palavara – um Não, dito entre dentes, chiado, agressivo”. Apesar deste incidente, foi nomeado e no desempenho deste elevado cargo se portou com competência, dedicação  e fidelidade.

Referindo-se à sua carreira política, Sacramento Blake teceu o seguinte comentário: "Foi deputado à Constituinte Brasileira, em 1823 e em três legislaturas subseqüentes, tendo a glória de sentar-se na Câmara entre dois filhos seus, Cornélio Ferreira França e Ernesto Ferreira França; e mais de uma vez, quando este, de imaginação ardente, de idéias liberalíssimas, se exaltava na tribuna, puxando-lhe pela aba da casaca, lhe dizia: — Prudência, senhor Ernesto! — E o moço sorria e se continha. Ele, entretanto, discutia com a maior franqueza e coragem, sem temer as conseqüências de suas palavras, como na Câmara mostrou quando, acusando energicamente o ministro da guerra, foi duas vezes interrompido por apupos e ameaças que lhe atiravam muitos militares das galerias, e duas vezes, com a mais fria coragem, com esmagadora indiferença, repetiu a acusação”

Há muitas anedotas a respeito deste notável médico, professor, filósofo e político. Uma delas, contada por Manoel de Macedo, é a seguinte: "Um deputado atacava, por inútil e onerosa para o tesouro, a criação de uma aula de Grego. O Doutor França, tomando a palavra e obtendo licença do presidente, para fazer uma pergunta àquele deputado que acabava de sentar-se, interrogou-o:
--"V. Ex.cia sabe ou em algum tempo estudou e procurou saber a língua grega?"
--"Não", respondeu-lhe o colega.
--"Senhor Presidente, disse o Doutor França, tenho respondido ao nobre deputado. E sentou-se no meio da hilaridade da Câmara, que aprovou a criação da aula de Grego."

Antônio Ferreira França faleceu no dia 9 de março de 1848, aos 77 anos de idade.








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