TEATRO SÃO JOÃO - SALVADOR, BAHIA
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Agrario de Souza Menezes, mais conhecido como Agrário
Menezes, advogado, poeta, jornalista e político, nasceu em Salvador, no dia 25
de janeiro de 1934, sendo seus pais Manoel Ignacio de Souza Menezes e Anna
Vicentina de Araujo Menezes.
Concluído curso de humanidades, ingressou na Faculdade de
Direito de Recife, pela qual foi diplomado em Ciências Jurídicas e Sociais.
Exerceu a profissão de advogado no foro de Salvador. No intervalo das lidas jurídicas, dedicava-se à
literatura.
Foi deputado
provincial em várias legislaturas. Fundou e presidiu o Conservatório Dramático da Bahia,
foi sócio do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, e membro de várias outras
instituições literárias e culturais.
Ainda estudante de direito, redigiu no Recife o periódico Astréa
e colaborou em muitos jornais daquela
cidade: O Liberal, O Echo Pernambucano, O Diário de Pernambuco, etc. Depois de formado, colaborou, em sua terra
natal, no Jornal da Bahia, Diário da Bahia, O Noticiador Católico, O Prisma, e
outros.
De sua bibliografia constam diversas obras, dentre as quais
destacamos:
Mathilde (drama em verso, em cinco atos, publicado em 1854,
quando era estudante. Retrata “certos amores que nutriu por uma linda senhora
casada).
Calabar (drama em verso, em cinco atos, publicado na Bahia
em 1858. Relata certas particularidades da vida literária do autor, além de
fatos históricos ligados ao domínio holandez).
Os Miseráveis (drama em cinco atos, publicado na Bahia).
Dom Forte (poema publicado, provavelmente, em 1963).
Os Contribuintes (drama cômico, inédito, apresentado no
Teatro São João, em Salvador).
O dia da Independência (drama em cinco atos)
Retrato do Rei (comédia)
O Príncipe (comédia)
O voto livre (comédia)
O primeiro amor (comédia)
A Questão do Perú (comédia datada de 1864)
O bocado não é para quem o faz (comédia)
Uma festa no Bonfim (comédia)
São Thomé (drama)
Agrário de Menezes faleceu de mal súbito no
dia 23 de agosto de 1863, quando se achava no Teatro São João, do qual era
diretor. Na ocasião, aplaudia com entusiasmo uma cantora, quando caiu
desfalecido. Morreu nos braços de sua esposa, em um dos camarotes daquela famosa
casa de espetáculos.
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PIRAJÁ
Agrário de Meneses
Aqui na vindoira História
Da brasileira Nação
Em largos traços de glória
Deve inscrever-se o padrão
Aqui, no combate ardido
Contra um déspota atrevido,
Caiu a gente de lá,
Aqui, tremendo o tirano,
Sagrou o povo baiano
O nome de Pirajá
Pirajá, no livro d’oiro,
Em que tua glória luz,
Tu és o maior tesouro
Da terra da Santa Cruz
Tu és a folha brilhante
Dessa memória gigante
Que o passado nos rendeu;
Tu és a página augusta
Dessa crônica vetusta,
Que a Liberdade escreveu!
Escreveu com mão distinta
Caracteres imortais;
As letras que o sangue pinta
São triunfos marciais.
Escreveu seu próprio nome,
Que o tempo jamais consome
Com seu poder senhoril;
Escreveu com braço forte
Portugal sorvendo a morte
Sob às plantas do Brasil.
Do Brasil e da Bahia,
Aqui toda a glória está;
Levanta-se a tirania,
Levanta-se Pirajá;
Com ele em marcha guerreira
Correm, Jácome, Siqueira,
Tiago, Tosta e Ferrão;
Com ele, às vozes do alarma,
Não fazem escolha d’arma
Labatut , Lopes, Falcão.
Falcão – a valente espada
Jamais empunhou assim!
Lopes – nunca a retirada
Soube tocar no clarim!
Labatut – com gládio fala;
Ferrão – sorri-se da bala;
Tota e Tiago – a bater!
Siqueira, Jácome, ousados,
Queriam – que eram soldados
Como soldados morrer!
Morrer – a Pátria salvando
Das suas cadeias vis,
É um feito memorando,
É uma sina feliz!
Morrer no campo da guerra
P’ra libertar sua terra
É ditosa condição;
Antes morrer com a vitória
Que o estandarte da glória
Ver atirando no chão.
No chão – depois que abatido
Foi o pendão português,
Pelo Brasil esquecido
Ei-lo ali – quem livre o fez!
Falcão na provecta idade
De pobreza e de saudade
Deixava o pranto cair!
Lopes – pela independência
Vai o pão d’agra indigência
De porta em porta pedir!
Pedir – debalde! Coitado!
Ele mendiga sem fim...
Não lhe valeu ser soldado,
Não lhe valeu seu clarim!
Por tanta fome zurzido,
Ao túmulo enegrecido
Um dia Lopes baixou!
Renegando deste império,
Em duro leito funéreo
O veterano tombou.
Tombou!... com ele tombaram
Muitos que estavam de pé;
Nem os p’rigos que afrontaram,
Nem lhes valeu sua fé!
Aos que vivem na tristura
Mesmo ao pé da sepultura
Esta voz ressoará:
– Soldados da Independência,
Curvai a fronte à indigência
Nos campos de Pirajá.
Pirajá – que assim tão triste
Ainda sorris p’ra nós,
Às vozes que tu me ouvistes
Uni também tua voz!
Que é dos frutos da semente
Que um exército valente
Aqui outr’ora plantou!
Não foi aqui co’a metralha
De uma sangrenta batalha
Que a liberdade vingou?
Vingou somente o egoísmo,
O despeito, o orgulho vão:
Para uns o despotismo,
Para outros a opressão!
Solitário, aqui, no ermo,
Está um soldado enfermo,
Que foi aos lusos hostil:
Mal desce a sombra da noite,
Começa a chorar o açoite
Que tem levado o Brasil!
Brasil! – diz o veterano
Merencório, e triste, e só:
Por destino inumano
Vejo rojar-te no pó?
Quem leria maus agouros
Nessa grinalda de louros
Que a tua fronte cingiu?
Que é da santa liberdade
Que aos filhos da heroicidade
Tão docemente sorriu?
Sorriu uma hora, um momento;
Depois – desapareceu!
E nem um só monumento
Em honra do que ela deu!
Apenas em pobre campa
Um nome egrégio se estampa,
O nome de Labatut!
Dorme tranqüilo o teu sono,
Da morte no régio entono
Da terra no seio cru!
Cru demais tem sido o fado
Da minha pátria gentil!
O veterano soldado
Pede esmola em seu Brasil!
Enquanto as mãos do estrangeiro
Enche d’oiro brasileiro,
Para nós falece o pão!
Enquanto folga o inimigo,
Sofre o soldado consigo
As dores do coração!
Coração – qual já tivemos –
Não há mais quem possa ter;
O sangue que aqui vertemos
Ninguém quererá verter!
Intrepidez, valentia,
Guerra forte à tirania,
Como aquela, mais não há!
Puro amor da liberdade
Eu só vi em outra idade
Nos campos de Pirajá!...
Pirajá! Disse o soldado
E deixou de se carpir –
Foi o seu último brado
Foi seu extremo sentir!
Pirajá! – repete agora
O eco de hora em hora
Até às praias do mar!...
Pirajá! – resta-te um nome,
Que o tempo jamais consome,
Que há de eterno perdurar!”
Em: Jayme Sá Menezes. Agrário de Menezes, um liberal do
império.
Rio de Janeiro: Cátedra/INL, 1983, p. 82-6.
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