Nasceu em Salvador, no início da
secunda década do século XX.
De origem humilde, conseguiu, com
sacrifício, terminar os preparatórios e ingressar na Faculdade de Medicina da
Bahia, pela qual diplomou-se em 1941.
Formado, iniciou uma carreira profissional, de mais de cinqüenta
anos de ininterrupta e profícua atividade.
Esteve presente nas salas de
cirurgia de quase todos os hospitais de Salvador, espargindo exemplos de competência,
habilidade e desprendimento.
No Hospital Santa Izabel, da
Santa Casa Misericórdia, permaneceu por trinta anos. No Hospital Getúlio
Vargas, antigo Pronto Socorro, trabalhou durante mais de duas décadas. No
Hospital Português da Bahia, iniciou suas atividades na década e sessenta, e
nele permaneceu dezenas de anos.
Na Faculdade de Medicina da
Universidade Federal da Bahia, ensinou neurocirurgia, começando como Professor
Assistente e terminando como Professor Adjunto.
Aos hospitais da Previdência Social,
emprestou inestimável serviço.
Foi o protótipo do médico
dedicado e desprendido. Trabalhou, muitas vezes, mais de dezesseis horas por
dia, realizando intervenções cirúrgicas de grande porte.
Jamais associou o trabalho
profissional à recompensa, de qualquer naturesa. Os atos cirúrgicos que
praticava, contavam com sua presença, do início ao fim. Não se afastava do
paciente, por motivo algum.
Amava os doentes como se eles
fossem seus filhos.
Aos ricos e aos
pobres, dispensava o mesmo carinho e a mesma solidariedade.
Nunca cobrou honorários. Quando perguntado, respondia:
“Pague o que puder, quando quiser”!
*
Inúmeros depoimentos atestam a
personalidade de Fernando Filgueiras:
· “Fernando Filgueiras é uma
existência plena e limpa. Jamais atrelou o seu trabalho às recompensas
financeiras. Não era o seu jeito confundir o sagrado da profissão de médico com
interesses menores. Ninguém o suplantou na originalidade que é a marca mais
aguda do seu trabalho. Foi o que foi e é o que é, sem nunca ter se afastado de
suas origens. Fernando Filgueiras, médico e cidadão, figura lendária da Bahia”-
Rodolfo Teixeira.
· “A equipe de Dr. Fernando
Filgueiras funcionava como uma orquestra. Naquela época, sem a tecnologia de
hoje e sem o bisturi elétrico, as cirurgias realizadas por ele quase não
sangravam, graças a seu procedimento artesanal e técnico. Sempre foi alegre,
bem humorado e extremamente bem-relacionado com os colegas”- Paulo Bittencourt.
· “É uma pessoa muito admirada
por sua dedicação extrema ao trabalho, aos pacientes e aos colegas. Como
professor, deu exemplo de como ser médico no sentido mais amplo da palavra,
além de repassar seus grandes conhecimentos na área de cirurgia”- Vicente
Araújo.
· “É uma pessoa rara no sentido
profissional e de humanismo, a quem podemos considerar como um médico completo,
reverenciado por todas as suas infinitas qualidades”- Renato Carvalho.
Faleceu em Salvador, no dia 17 de
fevereiro de 2010.
DEPOIMENTO RENATO VALADARES DE
CARVALHO
(Valadares de Carvalho, Renato-
Um Astro Que se Apaga. Revista Vida & Ética, Ano 01, No 01, Jan/março 2010)
HOSPITAL SANTA IZABEL- SALVADOR,
Ba
“As gerações se sucedem, quase sempre
completando seu ciclo com os problemas rotineiros que compõem o trajeto de
nossas vidas. Em contrapartida, algumas apresentam gratas surpresas,
notabilizando-se pelo surgimento de fatos ou pessoas especiais, quebrando a
mesmice rotineira da existência, trazendo à sociedade algo especial.
Os homens são os operários que
desempenham atividades inerentes à sua própria vida, no contexto social. Alguns
se destacam por suas qualidades naturais e adquiridas, estas conquistadas pelo
denodo e a perseverança na busca dos seus objetivos. Tais pessoas ganham mais
notoriedade quando são de origem humilde, sem os recursos necessários para
enfrentarem a adversidade, conseguindo seu lugar ao sol por justo merecimento.
Tudo isto seria compensador se,
após tanto esforço, tanta luta, os reveses do destino maldosamente não
ofuscassem o brilho das vitórias.
Tal preâmbulo me induz a falar de
um deles, levado à pia batismal com o nome de Fernando Ribeiro Filgueiras. De
origem muito pobre, filho de humilde funcionário dos Correios, cursou o ensino
básico em escola pública, sempre acalentando o sonho de tornar-se médico,
conseguindo com a graça de Deus e enorme esforço transformá-lo em realidade. O
salão nobre da Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus acolheu o
predestinado, com a aprovação ao dos luminares cujos retratos emprestam nobreza
àquele recinto sagrado.
O hoje hospital de ponta Santa
Izabel foi sua grande escola, convivendo com grandes mestres da cirurgia,
destacando-se por sua atuação técnica e notável dedicação aos pacientes, marca
da sua personalidade.
Sendo um autodidata, foi
surpreendente seu destaque profissional, tornando-se um dos mais requisitados
cirurgiões da Bahia, exercendo também atividades de ensino como assistente de
Neurologia e de Ortotraumatologia, na sua respeitável Faculdade.
Desempenhou labores profissionais
particulares em diversos hospitais da capital baiana, destacando-se os
hospitais Espanhol e Português, jamais recebendo qualquer remuneração por
serviços prestados aos beneficentes dos mesmos. Em justa homenagem, a Real
Sociedade Espanhola deu seu nome às novas instalações do Centro Cirúrgico, em
cerimônia onde tive a honra de saudá-lo.
Seus últimos quase vinte anos
foram marcados pelo sofrimento. Um acidente automobilístico deixou-o inativo
por longo período. Pouco tempo após este infortúnio, já estando exercendo
novamente suas atividades cirúrgicas, sofreu novo infortúnio, culminando com um
acidente vascular cerebral com seqüela de hemiplegia esquerda total. Acabava ali
o deslizar mágico do seu bisturi, começando o triste episódio do seu
confinamento em um leito. Neste exato momento, olhando pelo telescópio do meu
coração, notei, contristado, a ausência de um astro na Constelação do Saber”.
Profissional extremamente competente,e um ser humano iluminado de uma bondade sem limites.Sempre nos atendeu com presteza e desprendimento.Era médico da minha família.Tinha um brilho e uma aura espiritual única.
ResponderExcluirSaudades!