ÁPIO PATROCÍNO DA CONCEIÇÃO,
O "CAMAFEU DE OXÓSSI"
O baú lque Deus, em sua viagem
pelas terras do Brasil esqueceu na Bahia, é lindo, extremamente lindo.
Também é
rico, imensamente rico. Contém aneis de ouro, pulseiras de marfim e figas de prata e, no meio de tanta riquesa, seres humanos incomparáveis.
O mais extraordinário
deles é “Camafeu de Oxóssi” ...
*
Seu nome
de batismo era Ápio Patrocínio da
Conceição. Nasceu em Salvador, no bairro do Gravatá, em 4 de outubro de 1915,
sendo seus pais Faustino José do Patrocíno e Maria Firmina da Conceição.
Era mestre
de capoeira, presidente do Afoxé Filhos de Gandhi, Obá de Xangô, Osi Obá Aresá
no terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, ao lado de Caribé, Dorival Caymmi e Jorge
Amado.Tinha três barracas no Mercado Modelo, uma delas bem próxima da barraca de Maria de São Pedro.
Ele era
cantor, cantor muito festejado nos terreiros que frequentava.
Além das
barracas, possuia um restaurante famoso, tão famoso quanto o de Maria de São
Pedro.
O
restaurante, ao que dizem, foi um presente do prefeito Antônio Carlos
Magalhães.
O apelido
de “Camafeu de Oxóssi” teve sua origem no imaginário popular. Dizem os versados
nas coisas da Bahia que um dia o comerciante Ápio Patrocíno da Conceição,
vadiando pelo Pelourinho, tropeçou e quando caiu se deparou com um lindo
broche, chamado camofeu.
Rezam os
dicionários que camofeu “era e ainda é uma jóia usada pelas senhoras da
sociedade para prender a gola de seus vestidos”. Geralmente, “esse broche tinha
como principal atrativo uma figura em relevo do rosto de uma senhora ou do seu
esposo”.
Ápio ficou
tão alegre com o achado que seus amigos o apelidaram de “Camafeu”. Como ele era
filho-de-santo, ele próprio completou,
acrescentando: “de Oxóssi”.
No
sincretismo religioso, Oxóssi é o orixá da caça, da mata e da fartura.
O “Restaurante
de Camafeu de Oxóssi” era muito agradável e hospitaleiro. Oferecia cozinha típica (com moqueca de peixe,
moqueca de camarão, acarajé, caruru,
vatapé e outros quitutes), e cozinha internacional. O predomínio, é claro, era o
da cozinha baiana.
“Camafeu
de Oxóssi” faleceu em Salvador, em 1994.
No seu
enterro estiveram presentes mestres de capoeira, babalorixás e várias
iyalorixás. Dentre os babalorixas, destacou-se “Luis da Muriçoca” que cantou
várias cantigas fúnebres na língua yorubá.
O
“Restaurante de Camafeu de Oxóssi” é hoje de outro dono mas, apesar disso,
mantém a mesma tradição e continua conceituado. De sua cozinha saem
receitas muito saborosas, como a caldeirada de marisco, servida com arroz,
farofa e pirão. Da mesma maneira e com os mesmos acompanhamentos, sai a
pescada-amarela preparada com azeite de oliva e vinho branco. Entre os doces,
meu Deus, fazem sucesso a cocada branca e o quindim de Iáiá.
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