LINA DE VILLAR (ALEGORIA)
Evangelina Moniz de Aragão de Góes Araújo, mais conhecida
como Lina de Villar, nasceu em Salvador, no dia 14 de setembro de 1897, sendo
seus pais o médico, professor universitário e poeta Egas Moniz Barreto de
Araújo (Pethion de Villar, retratado neste site nesta mesma data) e Maria Elisa
de Lacerda Moniz de Aragão.
Aos 12 anos de idade, escreveu seus primeiros versos.
Publicou suas primeiras poesias na revista “A Paladina do Lar”
e colaborou na revista “Nieli”.
Conviveu com a
intelectualidade do seu tempo, de vez que pertencia a uma família privilegiada:
seu pai e seus três irmãos eram poetas consagrados.
Lina de Villar escreveu alguns contos e dedicou-se à
pintura.
Faleceu em 4 de agosto de 1927.
Em 1997, seus filhos, comemorando o centenário de
nascimento, publicaram um livro com vários versos, extraídos de sua vasta
bibliografia.
===========================
Transcrevemos a seguir alguns de seus versos:
1
Rosas de leite rosas de neve Funéreas rosas imaculadas Tendes a inércia dolente e leve De Virgens loiras amortalhadas
2
Flocos de tule esfarrapado. Gaze cetim, rendas frouxéis Restos de um traje de noivado Que alguém rasgou nos vergéis
3
Auréolas vivas rutilando! Migalhas claras de algum astro Flocos de espumas transbordando De estranho vasos alabastrinos
4
Eu sinto em vós planger magoada Do miserere a angústia infrene A mesma angústia macerada Dos versos tristes de Verlaine
5
A mesma dor que anda nos sinos Cujos soluços nos comovem Tremular dos violinos No Claire de Lune de Beethoven
6
A mesma paz da água dormente, De quietas pálpebras cerradas. Chorando o pranto opalescente, O pranto azul das alvoradas.
7
A mesma alma luzidia De asas exumes de querubim A Virgem Mãe Santa Maria Devia ter as mãos assim ...
8
Oh! grossas lágrimas geladas Que a noite do jardim verteu! Ressuscitais coisas passadas Que a gente pensa que esqueceu.
9
Tendes a palidez doentia De mãos que vão morrer em prece Com o fervor que nada esfria E uma algidez que nada aquece
10
Tendo o alvor da musselina E a languidez de quem se entrega Rosas que um beijo contamina Que um roçar de asa desagrega.
11
Há como vós almas na vida Deste candor ideal dos círios Desta brancura indefinida Rosas que mais parecem, lírios ...
11*
Almas de arminho e claridade Rosas que um sopro faz manchas É negra, é negra a tempestade E sois tão fáceis de manchar ...
12
Se Deus vos deu a cor dos luares Vós fez tão frágeis e tão puras Foi para a sombra dos altares Pra solidão das sepulturas ... |
*número 11 repetido no original
NA BARRA
Que encanto! Que esplendor! Que poesia
Sopra a brisa n’um doce rumorejoEnquanto n’uma dulcida harmoniaO mar e o céu confundem-se n’um beijo.O oceano despótico, arquejante
Dos rochedos o dono altivo espanca,
Coroadas d’espumas flutuantesVagas soluçam pela areia branca.
O manto azul do céu empalidece
A noite merencória, aos poucos desce
E morre à tarde, plácida sombra
Muito além, no poente ensangüentado,
De bambinellas d’oiro e luz franjando,Mergulha o sol nas vascas da agonia
Sopra a brisa n’um doce rumorejoEnquanto n’uma dulcida harmoniaO mar e o céu confundem-se n’um beijo.O oceano despótico, arquejante
Dos rochedos o dono altivo espanca,
Coroadas d’espumas flutuantesVagas soluçam pela areia branca.
O manto azul do céu empalidece
A noite merencória, aos poucos desce
E morre à tarde, plácida sombra
Muito além, no poente ensangüentado,
De bambinellas d’oiro e luz franjando,Mergulha o sol nas vascas da agonia
TARDE DE OUTONO
O sol fraco que lembra uma rosa vermelha
Parece tiritar na mortalha gelada
Que envolve de cinza e de névoa esgarçada
Onde a luz de dilui nuns tons de prata velha
Caem zumbindo como as asas de uma abelha
Folhas mortas no chão... Ao longe abandonada
Uma árvore esguia à beira de uma estrada
Impassível no lago opalino se espelha...
Ligeira a brisa passa a penumbra rasgando
Um grande beijo frio e agreste simulando
Beijo que refrigera, enleva e delicia
Outono! Eu te comparo a um longo sonho triste
Que as almas acorrenta e ao qual ninguém
Resiste.
Sonho feito de bruma e melancolia...
O sol fraco que lembra uma rosa vermelha
Parece tiritar na mortalha gelada
Que envolve de cinza e de névoa esgarçada
Onde a luz de dilui nuns tons de prata velha
Caem zumbindo como as asas de uma abelha
Folhas mortas no chão... Ao longe abandonada
Uma árvore esguia à beira de uma estrada
Impassível no lago opalino se espelha...
Ligeira a brisa passa a penumbra rasgando
Um grande beijo frio e agreste simulando
Beijo que refrigera, enleva e delicia
Outono! Eu te comparo a um longo sonho triste
Que as almas acorrenta e ao qual ninguém
Resiste.
Sonho feito de bruma e melancolia...
Era tarde.
Num recanto florido e sombreado cantavam
alegremente os passarinhos.
Como um brilhante fio de prata viva
Serpeava um límpido regato, rolando sobre
pedrinhas, alvíssimas formava pequenas
cascatas
Galhos e raízes secas atravessavam-no
como minúsculas pontes. O firmamento estava
azul... mas de um azul tão claro...
De repente rompendo a ramagem esmeraldina
apareceu uma linda virgem. Tinha os olhos cor de saphira e os cachos
de oiro tremiam entre o seu pescoço brando e
roliço
As faces acetinadas tinham a frescura
de um botão de rosa ...
..................................................................
Olhou em torno de si indiferente a tudo que
a cercava ...
Sentou-se sobre uma pedra
do caminho ...
A natureza sorria... e ela chorava ...
... Desigualdade das coisas humanas ...
A donzela soluçava e suas lágrimas deslizando
no cetim do seu rosto iam perdendo-se entre a
relva pura e cristalina como se fossem os mais
custos brilhantes do colar de uma rainha que
alguma mão caprichosa desatasse o fio ...
Súbito ... oh! milagre! brotaram da terra inúmeras
florzinhas brancas e roxas.
As primeiras traduzem a candura, d’aquela
alma jovem, as segundas eram como a cruel mágoa que lhe atravessava o coração ...
..................................................................
Uma legião de espíritos divinos passou por
ali, colhendo braçadas das graciosas florzinhas
foram oferecê-las ao senhor em
..................................................................
mística prece...................
..................................................................
..................................................................
As cândidas avezinhas no topo das
arvores continuavam a cantar e o eco ao longe
repetia no morno silêncio da tarde.
Do pranto aljofarado de uma virgem
nasceram as saudades ...
http://www.google.com.br/search?num=10&h
Nenhum comentário:
Postar um comentário