domingo, 16 de setembro de 2012

SEBASTIAN BENDA E SUA PASSAGEM PELA BAHIA


BAIANOS SÃO TODOS OS QUE AMARAM A BAHIA.
HÁ BAIANOS EM TODOS OS LUGARES, DE  TODOS OS POVOS, DE TODOS OS PAÍSES...


SEBASTIAN BENDA

                            
                                              
                                                                              REITOR EDGARD SANTOS
Simone Ribeiro




São muitos na música os casos de artistas cujo brilho ofuscou o talento de outros criadores, fazendo lembrar os azedos tempos de Mozart e Salieri. Na Bahia, as décadas de 50 e 60 representaram para a Escola de Música da Ufba um período propício para o culto das vaidades. Então “pupilas do senhor reitor” Edgard Santos - Dança e Teatro disputavam a sua preferência -, a unidade serviu como laboratório para a implantação de um projeto cultural de porte, abrigando figuras de vanguarda, como Hans Koellreutter, Ernst Widmer e Walter Smetak. A morte do pianista Sebastian Benda, aos 76 anos, na Suíça, e que abandonou precocemente a escola, em 1961, reacende uma época de tensões e competições, ainda não suficientemente pesquisada e explorada.
O legado de Sebastian Benda, um dos nomes que integraram a corte estrangeira da Ufba no esplendor da sua efervescência cultural, ainda não foi devidamente reconhecido pela Escola de Música e quem afirma não é um leigo no assunto, mas um dos seus ex-diretores, o professor e etnomusicólogo Manuel Veiga. Aluno de Benda entre 1954 e 1957, nos lendários Seminários de Música, embrião da escola, ele avalia o papel do mestre na formação de várias gerações: 
“Nós tínhamos o Koellreutter, um apóstolo do dodecafonismo, da música nova, mas considero-o mais um fator de catarse do que um feitor. Ele contribuía para a reação, mas não participava dela. O Benda não falava, mas fazia música nova”- testemunha Veiga.
Não apenas Benda, mas um grupo de professores composto, entre outros, por Pierre Klose e Gabrielle Dumaine, salienta Manuel Veiga, foi responsável pela apresentação em Salvador, ao vivo, da música contemporânea que se produzia na Europa de então, bem como música do repertório tradicional de acesso limitado no Brasil. Sem desmerecer o carisma e fascínio do regente alemão, dono, porém, de personalidade controversa, Veiga diz que o suíço diferenciava-se pelo não-radicalismo. Era exigente, crítico, respeitava as hierarquias, mas gostava de simplificar as coisas, seja como intérprete ou docente. Sob a sua orientação, concluiu o curso de piano e recebeu ensinamentos valorosos. “A música, para Benda, era um sacerdócio. Não uma mera sintaxe de sons que facilmente dominou, mas algo metafísico, vindo de fora, presente de Deus e de heróis”, comenta.
Foi assistindo aos exclusivos concertos da Sociedade de Cultura Artística da Bahia (SCAB), de Alexandrina Ramalho, no começo dos anos 50, que Manuel Veiga travou o primeiro contato com o futuro orientador. Em 57, o músico baiano viajou para os Estados Unidos para uma temporada de estudos. Em 1961, Benda se transferia para o Rio Grande do Sul, para ensinar na Universidade de Santa Maria, e, anos depois, para São Paulo. Sebastian Benda viveu de 1952 até 1981 no Brasil. Na Bahia se casou com Luiza do Eirado Dias, com quem teve cinco filhos, vários deles músicos. Sua última visita a Salvador aconteceu há seis anos. Nos momentos finais de vida dedicava-se a fazer música de câmara com os filhos. Segundo Manuel Veiga, “a história da Escola de Música da Ufba teria sido diferente não tivesse contado com Sebastian Benda como um de seus pilares fundamentais”.

  • Simone Ribeiro é jornalista; integrante da equipe de A TARDE Cultural.


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