JULIANO MOREIRA
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Juliano Moreira, precursor da psiquiatria científica brasileira, nasceu em
Salvador em 6 de janeiro de1873, sendo seus pais uma simples empregada
doméstica e um humilde funcionário da Prefeitura..
Começou a estudar no Colégio D. Pedro II, e depois no Liceu
Provincial. Aos 13 anos de idade foi
perfilado por Manoel do Carmo Moreira Júnior, servidor municipal. Após os preparatórios,
matriculou-se na Faculdade de Medicina da Bahia, pela qual recebeu o grau de
doutor em medicina em 1891, aos 18 anos, após defender tese sobre “Sífilis
Maligna Precoce”. Essa tese mereceu honrosas referências por parte do
sifilógrafo francês Buret e do neurologista Raymond.
Durante o curso médico, sempre através de concursos em que
saiu vencedor, foi interno da Cadeira de Moléstias Cutâneas e Preparador de
Anatomia Médico-Cirúrgica.
Cinco anos depois de formado, se submeteu ao concurso para
professor da Faculdade de Medicina. O fato se tornou famoso nos anais daquela
casa de ensino. Dede cedo, os portões ainda não tinham sido abertos, uma
multidão de estudantes se postava no Terreiro de Jesus, aguardando o resultado.
Eles tinham acompanhado o concurso de perto, lotando o salão nobre. Os
estudantes queriam impedir que o jovem candidato, um negro, fosse injustiçado
por uma banca examinadora predominantemente escravocrata. Abertos os portões
naquela manhã de 1896, os futuros médicos tiveram uma surpresa: Juliano Moreira
tinha recebido 15 notas dez !!!. A vitória foi comemorada até altas horas da
noite. Juliano era muito querido e agora, aos 23 anos de idade, se tornara o
professor mais jovem da Faculdade de Medicina.
“Em seu discurso de posse, em maio de 1896, Juliano Moreira
descreveu de forma tão elegante quanto contundente, o que parece ser sua
experiência pessoal com relação ao marcante preconceito de cor existente na
sociedade brasileira de então” (Ana Maria Oda e Paulo Dalagalarrondo).
Juliano permaneceu em Salvador até 1902. Neste período publicou diversos
artigos na “Gazeta Médica da Bahia” e em periódicos da França e da Inglaterra, sobre lepra, bouba, leishmaníase cutânea-mucosa,
sífilis, micetomas, foi um dos fundadores da Sociedade de Medicina e
Cirurgia e da Sociedade de Medicina
Legal da Bahia.
Entre 1895 e 1902, realizou uma série de viagens à Europa,
para tratar-se de tuberculose pulmonar, contraída pelo excesso de dedicação à
pesquisa e ao estudo. Aproveitando as
oportunidades, freqüentou vários cursos sobre doenças mentais, realizou
estágio de anatomia patológica com
Virchow e visitou as clínicas psiquiátricas mais importantes da Alemanha,
Inglaterra, Escócia, Bélgica, França, Itália, Áustria e Suíça.
Na Bahia, a vida de Juliano não foi fácil, pois teve de
lutar contra “as amarras de um sistema hierárquico discriminador”., até que
surgiu o convite do Ministro José Seabra para mudar-se para o Rio de Janeiro e
assumir a direção do Hospital Nacional de Alienados, cargo que exerceu de 1903
a 1930. Como diretor do Hospital Nacional de Alienados, tornou-se o grande
divulgador da psiquiatria científica brasileira, fundou os Arquivos Brasileiros
de Medicina, a Sociedade Brasileira de Psiquiatria, Neurologia e Ciências Afins
e representou o Brasil em congressos médicos, na Europa e nos Estados Unidos
(Berlim, em 1900, do qual foi eleito Presidente; Lisboa, em 1906; Amsterdã e Milão, em 1907;
Londres e Bruxelas, em 1913) e ingressou em
várias sociedades científicas dos Estados Unidos, Alemanha, França e
Inglaterra.
Em 1911, foi nomeado diretor da Assistência Médico-Legal dos
Alienados, ocasião em que criou o Manicômio Judiciário.
Em 1928, foi convidado para realizar conferências em
universidades Japonesas, em Kioto,
Sendai, Osaka e Tokio, quando foi condecorado com a Ordem do Tesouro Sagrado,
pelo Imperador Hirohito.
Faleceu em 2 de maio de 1933, na cidade de Correias, no Rio
de Janeiro, para onde se mudara, devido à tuberculose.ul
Juliano Moreira publicou diversas trabalhos, dentre os quais
destacamos “A evolução da Medicina no Brasil”, obra que realçou, ainda mais, os
dotes deste cientista, um dos maiores do Brasil.
Um fato histórico pouco conhecido é a visita de Albert
Einstein à Academia Brasileira de Ciências, realizada em 7 de maio de 1926, ocasião
em que pronunciou uma conferência em francês. O cientista se surpreendeu ao
verificar que a presidência dos trabalhos era exercida por “um senhor de olhos
grandes e penetrantes, pele escura, e franzino”, famoso em todo o mundo. Este
cientista era Juliano Moreira, Presidente de Honra daquela Academia, Vice-Presidente
e Presidente várias vezes reeleito, reconhecido como um grande médico e “ume
sábio, no mais amplo e rigoroso significado dessa expressão”.
Na Sociedade Brasileira de Neurologia, Psiquiatria e Medicina
Legal, Juliano foi eleito Presidente Perpétuo.
Segundo o discípulo Afrânio Peixoto, “Juliano era múltiplo.
Foi médico, tropicalista, dermatólogo, sifilógrafo, alienista, psicólogo,
naturalista e historiador da Medicina”. Realmente, sob qualquer ângulo em que
examinarmos sua história de vida, ela se mostra excepcional, extraordinária!
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