quinta-feira, 24 de julho de 2014

MANUEL MAURÍCIO REBOUÇAS


SEPULTAMENTO EM IGREJAS



Manoel Maurício Rebouças nasceu em Maragogipe, no ano de 1800.

Em 1831, colou o grau de doutor em Medicina, Universidade de Paris, onde defendeu tese entítulada “Dissertacion sur les inhumations em général”  Antes, na mesma cidade, formou-se em Bacharel em Ciências e Letras.
Em 1831, foi nomeado lente, por concurso, de Botânica Médica e Zoologia da Faculdade de Medicina da Bahia, assim permanecendo até 1861.
Portador de vários títulos, dos quais destacamos o de Conselheiro do Imperador e  Cavaleiro da Ordem do Cruzeiro.

Revela Eduardo Sá Menezes que o Dr.Rebouças, segundo Sacramento Blake, escreveu volumosa bibliografia, hoje desaparecida, cujos originais foram submetido à apreciação do Dr. Francisco Paula Cândido, seu colega em Paris (Memória Histórica da Faculdade de Medicina da Bahia).

 “O Dr. Rebouças foi um dedicado homem de ciência e um grande patriota. Como médico e professor, com efeito, deu provas do seu valor; na qualidade de cidadão, sobretudo nas lutas da Independência, mostrou-se de um heroísmo extraordinário” (Ibidem).
 
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  SEPULTAMENTO NAS IGREJAS
A transmigração da família real para o Brasil desencadeou uma série de mudanças na rotina e nos costumes brasileirtos. A grande preocupação da época era civilizar o Brasil, e um dos caminhos apontados era o do desenvolvimento da Higiene e da Medicina.
Nesta atmosfera de mudanças, surgiu, em 27 de dezembro de 1825, um artigo em um dos jornais da Corte  que causou reboliço. O autor, usando um pseudônimo, tecia elogios ao governo imperial pelo fato de ter proibido o sepultamento nos interior das igrejas e fazia uma série de acusações ao clero, acusando-o de  incentivar o enterramento nas campas colocados no chão das igrejas católicas, prática que, na concepção do articulista, causava dano à saúde. Os gases miasmáticos exalados pelas campas escapavam se espalhavam pelo interior das igrejas e saia para as ruas, causando epidemias. Para ilustrar tal  afirmação relatava que ele próprio, ao entrar em uma igreja no Rio de Janeiro, “foi obrigado a sair correndo devido ao mau cheiro exalado das campas da nave central.” Afirmava que os padres “procuravam ganhar dinheiro com os enterros, perpetuando, assim um hábito nocivo à saúde da população. Afirmava também  que a prática da inumação nas igrejas era inspirada por superstições criadas pelo próprio clero com o intuito de pressionar os fieis. Uma dessas crenças era a dizia que aqueles que não fossem sepultados no espaço sagrado dos templos não seriam salvos no dia do Juízo Final.

O padre Luiz Gonçalves dos Santos (1767_1844), mais conhecido como Padre Perereca, respondeu ao articulista desconhecido citando os enterros cristãos da Roma antiga, dizendo textualmente: “... que remédio se ha de dar para que os mortos não infeccionem os vivos? (...) enterre-se o defunto hum só em cada cova, e seja coberto de bastante terra, pelo menos cinco palmos de altura, tape-se a cova com sua campa de madeira, ou de pedra, ou de ladrilho; e não se abra para ali se sepultar outro cadáver, senão passados dois anos. Tapar bem os corpos com terra é suficiente para conter os miasmas dentro do solo”.

A tese de Manoel Maurício Rebouças, gira em torno desta polêmica. Condena as inumações nos templos religiosos, fundamentando-se em  uma casuística considerada fidedígna pelas autoridades de então. O primeiro caso relatado é o do médico italiano Bernardino Ramazzini (1633-1714) e faz  referência a um coveiro que queria roubar um cadáver recém-sepultado. “Assim que abriu a cova, dizia  Ramazzini, o coveiro foi sufocado, e caiu morto sobre a campa que violara”. Outro caso é o de Henri Huguenot, decano da Faculdade de Medicina de Montpellier, que relata que no dia 17 de agosto de 1744, Pedro Baffagette, couveiro da Confraria dos Penitentes, encarregado de enterrar Guilherme Boudou em uma das covas da Igreja de Nossa Senhora de Montpellier, foi acometido de convulsões e ficou paralisado. Um frade que se ofereceu para salvá-lo, perdeu a respiração assim que o agarrou . pelo casaco e padeceu de “palpitações durante a noite inteira. Ficou tremendo, e só se recuperou depois de uma sangria”.
A tese foi muito comentada mas, não obstante sua repercussão no meio médico, o sepultamento no interior das igrejas continuou até  meados do século XIX nas importantes cidades brasileiras como Salvador e Rio de Janeiro bem como em Ouro Preto, São João Del Rei e Tiradentes.

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