SEPULTAMENTO EM IGREJAS
Manoel Maurício Rebouças nasceu
em Maragogipe, no ano de 1800.
Em 1831, colou o grau de doutor
em Medicina, Universidade de Paris, onde defendeu tese entítulada “Dissertacion
sur les inhumations em général” Antes,
na mesma cidade, formou-se em Bacharel em Ciências e Letras.
Em 1831, foi nomeado lente, por
concurso, de Botânica Médica e Zoologia da Faculdade de Medicina da Bahia,
assim permanecendo até 1861.
Portador de vários títulos, dos
quais destacamos o de Conselheiro do Imperador e Cavaleiro da Ordem do Cruzeiro.
Revela Eduardo Sá Menezes que o
Dr.Rebouças, segundo Sacramento Blake, escreveu volumosa bibliografia, hoje desaparecida,
cujos originais foram submetido à apreciação do Dr. Francisco Paula Cândido,
seu colega em Paris (Memória Histórica da Faculdade de Medicina da Bahia).
“O Dr. Rebouças foi um dedicado homem de
ciência e um grande patriota. Como médico e professor, com efeito, deu provas
do seu valor; na qualidade de cidadão, sobretudo nas lutas da Independência,
mostrou-se de um heroísmo extraordinário” (Ibidem).
000000000
SEPULTAMENTO NAS IGREJAS
A transmigração da família real
para o Brasil desencadeou uma série de mudanças na rotina e nos costumes brasileirtos.
A grande preocupação da época era civilizar o Brasil, e um dos caminhos
apontados era o do desenvolvimento da Higiene e da Medicina.
Nesta atmosfera de mudanças, surgiu,
em 27 de dezembro de 1825, um artigo em um dos jornais da Corte que causou reboliço. O autor, usando um
pseudônimo, tecia elogios ao governo imperial pelo fato de ter proibido o
sepultamento nos interior das igrejas e fazia uma série de acusações ao clero,
acusando-o de incentivar o enterramento
nas campas colocados no chão das igrejas católicas, prática que, na concepção
do articulista, causava dano à saúde. Os gases miasmáticos exalados pelas
campas escapavam se espalhavam pelo interior das igrejas e saia para as ruas,
causando epidemias. Para ilustrar tal afirmação relatava que ele próprio, ao entrar
em uma igreja no Rio de Janeiro, “foi obrigado a sair correndo devido ao mau
cheiro exalado das campas da nave central.” Afirmava que os padres “procuravam
ganhar dinheiro com os enterros, perpetuando, assim um hábito nocivo à saúde da
população. Afirmava também que a prática
da inumação nas igrejas era inspirada por superstições criadas pelo próprio
clero com o intuito de pressionar os fieis. Uma dessas crenças era a dizia que
aqueles que não fossem sepultados no espaço sagrado dos templos não seriam
salvos no dia do Juízo Final.
O padre Luiz Gonçalves dos Santos
(1767_1844), mais conhecido como Padre Perereca, respondeu ao articulista
desconhecido citando os enterros cristãos da Roma antiga, dizendo textualmente:
“... que remédio se ha de dar para que os mortos não infeccionem os vivos?
(...) enterre-se o defunto hum só em cada cova, e seja coberto de bastante
terra, pelo menos cinco palmos de altura, tape-se a cova com sua campa de
madeira, ou de pedra, ou de ladrilho; e não se abra para ali se sepultar outro
cadáver, senão passados dois anos. Tapar bem os corpos com terra é suficiente
para conter os miasmas dentro do solo”.
A tese de Manoel Maurício
Rebouças, gira em torno desta polêmica. Condena as inumações nos templos
religiosos, fundamentando-se em uma casuística
considerada fidedígna pelas autoridades de então. O primeiro caso relatado é o
do médico italiano Bernardino Ramazzini (1633-1714) e faz referência a um coveiro que queria roubar um cadáver
recém-sepultado. “Assim que abriu a cova, dizia Ramazzini, o coveiro foi sufocado, e caiu
morto sobre a campa que violara”. Outro caso é o de Henri Huguenot, decano da
Faculdade de Medicina de Montpellier, que relata que no dia 17 de agosto de
1744, Pedro Baffagette, couveiro da Confraria dos Penitentes, encarregado de
enterrar Guilherme Boudou em uma das covas da Igreja de Nossa Senhora de
Montpellier, foi acometido de convulsões e ficou paralisado. Um frade que se
ofereceu para salvá-lo, perdeu a respiração assim que o agarrou . pelo casaco e
padeceu de “palpitações durante a noite inteira. Ficou tremendo, e só se
recuperou depois de uma sangria”.
A tese foi muito comentada mas, não
obstante sua repercussão no meio médico, o sepultamento no interior das igrejas
continuou até meados do século XIX nas
importantes cidades brasileiras como Salvador e Rio de Janeiro bem como em Ouro
Preto, São João Del Rei e Tiradentes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário