domingo, 23 de fevereiro de 2014

164 - ALOÍSIO LOPES PEREIRA DE CARVALHO (LULU PAROLA)


LULU PAROLA (ALOÍSIO LOPES 
PEREIRA DE CARVALHO)



Aloísio Lopes Pereira de Carvalho, mais conhecido como Aloísio de Carvalho, jornalista e escritor baiano, nasceu em Salvador no dia 27 de março de 1866.

Sua carreira de escritor e jornalista, começou cedo, ao lado de Xavier Marques (1861-1942), no  “Jornal  de Notícias”, do  seu cunhado, Carlos Morais.  Com o encerramento das atividades deste jornal, passou a colaborar no vespertino  “A Tarde”, recém-fundado por Ernesto Simões Filho. Foi redator do  jornal “A Tarde”, até seu falecimento.

Foi, também, radialista, apresentando o programa “Conversa Fiada”, na Rádio Sociedade da Bahia.

Em 1920 foi eleito deputado estadual pelos  seabristas
.
Pertenceu a Academia de Leras da Bahia, da qual foi fundador
.
A produção literária de Aloísio Lopes de Carvalho, que utilizou o peseudônimo de Lulu Parola, é tema de pesquisa da doutora em Letras e Linguística pela  Universidade Federal da Bahia, Alena Oliveira Freitas. A  pesquisadora  reuniu as publicações de Aloísio de Carvalho, de 1891 a 1919, publicadas na coluna  literária “Cantando e Rindo”, dos periódicos “A Tarde” e  “Jornal de Notícias” de Salvador. Várias passagens da vida da cidade são abordadas, inclusive as referentes às reformas urbanas que mudaram Salvador no perído de 1912 a 1916.  Esta fase corresponde a época em que vários episódios marcaram a vida da Bahia e do Brasil. Destes eventos o mais importante foi a Proclamação da República.
“A história daquele período da evolução da cidade, disse Pedro Calmon, dos começos dramáticos da República a 1912, quando a engenharia do progresso se pôs  a remodelar a velha Bahia, disfarçando-lhe com as novas ruas as rugas irreparáveis – toda história da Bahia nos 29 anos em que trovou Aloísio de Carvalho, cabe nos seis milheiros de sua versificação jovial”.

“A afeição do cronista pela sua cidade, diz Alena Oliveira Freitas, é evidente em toda a sua longa produção, desde o seu primeiro texto publicado em “Cantando e Rindo” (31-10-1891), no qual lamenta a sujeira de sua Salvador tricentenária, chamando-a de Ciscopolis, até a sua última crônica, publicada no jornal “A Tarde”, em que lamenta a decadência dos costumes, comparando a sua própria decrepitude com a de Salvador (19-01-1942).

As festas populares, os costumes  e tradições,  as ruas, praças e bairros de Salvador, são  assuntos constantes de suas crônicas. A instalação de fios elétricos atrelados à cobrança de impostos, a chegada dos bondes elétricos e as obras de saneamento não escaparam ao seu espírito crítico e construtivo.

No dia 13 de junho de 1911, por exemplo, dia de Santo Antônio, Lulu Parola versejou, recitando:

     "Meu Santo Antônio faceiro,
     Santo dos mais adorados,
     Que, sendo um santo solteiro,
     Cresces o rol dos casados!

     Os teus milagres são tantos,
     Que é justo que eu te consagre,
     Hoje, meus pálidos cantos,
     Também pedindo um milagre!

     Arranjas mil casamentos,
     Santo querido das moças!
     Venho louvar-te os intentos...
     Quero, porém, que me ouças:

     Deves fazer a união
     (Bem sei que o encargo é tremendo)
     Entre casais que aí estão,
     Como solteiros vivendo...

     Dêstes, assim mal casados,
     Alguns exemplos darei:
     A União e os Estados;
     Os governantes e a Lei;
     O orçamento e a receita;
     A meninada e a instrução;
     A sementeira e a colheita;
     O eleitorado e a eleição;
     O vendilhão e a balança;
     O telegrama e a presteza;
     Política e confiança;
     Qualquer horário e a certeza;
     O deputado e o mandato;
     A criadagem e o serviço;
     Certas modas e o recato;
     Cumprimento e compromisso;
     O cidadão e o Direito;
     Posso, em resumo, dizer,
     Fazendo quadro perfeito,
     Que - o cidadão e o Dever...
     
     Mas longa a lista eu faria,
     E deixo de aqui fazer, 
     Porque Você, neste dia, 
     Tem mais a quem atender!

     Fica, entretanto, apontado
     Quanto de acordo é preciso!
     Sim, Santo Antônio afamado,
     Dai a esta gente - JUIZO!...”


A época que Lulu Parola  retratou foi um período de grandes transformações, assim retratadas por Rinaldo Leite: “Se o Rio de Janeiro já havia conhecido, ainda no princípio do século, a importância da atividade modernizadora; se São Paulo passou por transformações progressistas animadoras; se, de um modo geral, as capitais do Sul e mesmo algumas do Norte se metiam nos percursos da civilização, somente em 1912, Salvador conheceu a oportunidade como nunca conhecera antes, de seguir as mesmas trilhas. A ascensão de J.J.Seabra ao governo do Estado, com seus projetos modernizadores da cidade, permitiu que se vislumbrasse uma nova possibilidade, dando ele início a várias obras de remodelamento. Os melhoramentos físicos, motor inicial de uma série de transformações que deveriam processar-se na cidade, estenderíam-se, paulatina e concomitantemente, para os serviços urbanos e assistência pública, os hábitos e costumes da população, que também seriam melhorados”.“Lulu Parola, acrescenta Alena Oliveira Freitas, espectador privilegiado desse processo, registrou em suas crônicas diversas mudanças da administração seabrista, cujo maior ideal era colocar Salvador entre as capitais civilizadas da nação, sendo o Rio de Janeiro o principal espelho a se mirar”.

Aloísio de Carvalho faleceu em Salvador, no dia 2 de fevereiro de 1942.

Anos depois, seus descendentes, André e Lícia Carvalho, doaram ao Centro de Memória da Bahia (CMB) os documentos de Aloísio de Carvalho e de seu filho Aloísio de Carvalho Filho (1901-1970), jurista, professor, promotor público, escritor e senador da República.


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