PADRE LUIS GONZAGA CABRAL
+do+padre+luis+gonzaga+cabral
O Padre Luis Gonzaga Cabral, professor, escritor e
orador sacro, descendente de uma família aristocrática, nasceu em 1º de outubro
de 1866, na Foz do Douro, em Portugal.
Educado por jesuítas, freqüentou o Noviciado do Barro, em
Terra Vedras, estudou no Colégio São Francisco de Setúbal, fez o curso de
Filosofia, em Uclés (Espanha) e o de Teologia, em Vais (França). Ordenou-se padre
jesuíta em 1897, foi confessor real e professor
do Colégio Lisboeta de Campolide, do qual se tornou reitor em 1903.
*
A partir de 1875, quando surgiram os partidos Socialista e
Republicano, a monarquia portuguesa começou a dar sinais de esgotamento e em outubro
de 1910 os revoltosos proclamaram a República. O novo regime proibiu o ensino
religioso e expulsou as ordens e congregações religiosas. Os jesuítas tiveram
de fechar os colégios de Campolide e São Francisco e fugirem de Portugal.
O padre Luis Gonzaga Cabral, Provincial da Companhia, solicitou
ao governo brasileiro autorização para instalar os religiosos no Brasil. Em
1911, obtida a autorização, os jesuítas vieram para a Bahia, foram acolhidos pelo
arcebispo D. Jerônimo Tomé de Souza e fundaram o Colégio Antônio Vieira. O Padre Cabral foi
para a Bélgica onde passou a ensinar Literatura e Oratória aos estudantes
exilados, até 1916, ano em que chegou em Salvador para ensinar no Colégio
Antônio Vieira, do qual se tornou diretor em 1930.
Na Bahia o Padre Cabral permaneceu durante mais de vinte anos, exercendo
louvável atividade apostólica e educacional. Importantes expoentes da cultura
baiana e brasileira foram alunos dos jesuítas na fase em que os portugueses
permaneceram na direção do Colégio Antônio Vieira, e de modo especial no
período em que o Padre Cabral foi seu diretor. Dentre os discípulos mais
distinguidos citamos Thales de Azevedo (um dos mais importantes antropólogos do
Brasil), Hermes Lima (jurista, político e ensaísta, Primeiro Ministro em 1962),
Anísio Teixeira (um dos maiores educadores do país), Jorge Amado (famoso
romancista baiano), Hélio Simões (poeta e professor universitário), Herbeto de
Azevedo (importante jornalista e escritor) e muitos outros. Três deles (Hermes
Lima, Thales de Azevedo e Jorge Amado) registraram em seus livros suas memórias
do tempo de estudante. Hermes Lima descreveu o colégio dos Coqueiros da Piedade
como “uma residência espaçosa, de excelentes instalações”, e considerou os
Padres Cabral e Torrend como as maiores expressões do corpo docente. Thales de Azevedo demonstrou
grande apreço pelo Padre Cabral, dizendo tratar-se de “um exemplo de
laboriosidade e constância que se dedicou à mocidade de então, sem mostrar
cansaço ou enfado, sem impacientar-se, sempre metódico e organizado, como se
comprova na série de cadernos em que fazia o resumo dos seus sermões”. Jorge
Amado confessou: “minha vocação literária foi despertada pelas aulas desse
jesuíta, aplaudido orador sacro, grande estrela do colégio. A sociedade baiana
vinha em peso ouvir seu sermão dominical”. Contou que “em determinado dia, em
sala de aula, o mestre deu como atividade a escrita de um texto sobre o mar. O
menino Jorge, em vez de tratar, como a maior parte dos seus colegas, dos “mares
nunca dantes navegados” de Camões, preferiu escrever sobre o mar de Ilhéus,
cidade da região cacaueira onde morou e da qual sentia saudades. O Padre Cabral
levou os deveres para corrigir em sua cela. Na aula seguinte, entre risonho e
solene, anunciou a existência de uma vocação autêntica de escritor naquela sala
de aula. Pediu que escutassem com atenção o que ia ler. Tinha certeza, afirmou,
que o autor daquela página seria no futuro um escritor conhecido. Não regatou
elogios”. Jorge Amado acabara de completar, apenas, onze anos...
*
O Colégio Antônio Vieira funcionou, inicialmente, nos
Coqueiros da Piedade, cabendo ao Padre Cabral a construção da sede definitiva,
no Garcia. “O publico baiano, a comunidade jesuítica e os alunos, afirmou
Fernando Azevedo, ficaram encantados com a nova casa, ampla e arejada”. O Padre
Luis Gonzaga Mariz, entusiasmado, escreveu: “Até que enfim estamos no novo
Colégio Antônio Vieira! O edifício é esplêndido !”.
A mudança para as novas instalações foi realizada no início
de 1933. O Padre Cabral deixou a direção do Colégio em setembro daquele ano,
sendo substituído pelo Padre Manoel dos Santos. As preocupações financeiras
decorrentes da construção abalaram sua saúde. Muito cansado, foi descansar no Colégio Manoel da Nóbrega,
em Recife. A situação foi se normalizando pouco a pouco, no decorrer do
reitorado do Padre Santos. Em 1935, mais tranqüilo, o Padre Cabral foi rever
Portugal e por lá demorou alguns meses. Voltando para a
Bahia, faleceu cercado pelo carinho de seus alunos e admiradores, em 28 de
janeiro de 1939, com a idade de 73 anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário