quinta-feira, 29 de maio de 2014

LUIS DOS SANTOS VILHENA

 I

 
ANTIGA IGREJA DA AJUDA, EM  SALVADOR
(INÍCIO DO SÉCULO XIX)
 
 
Luis dos Santos Vilhena nasceu em 1744, na vila de    São Tiago de Cassino, Portugal e chegou em Salvador no ano de 1787.
Serviu ao exército por dez anos, em Setúbal, aproveitando as horas vagas para estudar grego e latim. Em 1785, após deixar o exército, candidatou-se à regência da cátedra de grego. Foi aprovado mas não tomou posse  do cargo pelo fato de ter ficado doente. Recuperado, assumiu a cátedra na Cidade do Salvador, onde ensinou grego de 1787 a 1799. Neste último ano a cátedra foi extinta e ele  foi aposentado com metade dos vencimentos.
Além de  professor de grego, Vilhena inventou mecanismos para melhorar o desempenho de engenhos. Em 1802, publicou suas famosas cartas com informações sobre a vida e os costumes de Salvador. Escreveu também sobre Porto Alegre, Rio de Janeiro e o Brasil, em geral. São vinte e quatro cartas “escritas, segundo ele, pelo mais humilde dos vassalos, professor régio da língua grega na cidade do Salvador”, e endereçadas a dois amigos fictícios, Filipono e Patrifilo. As vinte primeiras datam de 1798 a 1799. Dezesseis referem-se à Bahia, sete descrevem outras capitanias e a última preconiza um novo programa de política colonial.
Como lembra Pedro de Almeida Vasconcelos, Salvador naquela época, embora tivesse perdido sua condição de capital do Brasil, “continuava como principal porto e principal cidade da colônia até o início do século XIX”. De acordo com o historiador inglês Southey, “com a transferência da sede do governo para o Rio de Janeiro outra nenhuma perda, além da dignidade, sofreu São Salvador... continuando a ser uma das maiores, mais opulenta e florescentes cidades do Novo Mundo”. A cidade, afirma Pedro de Almeida Vasconcelos, “pelas informações disponíveis podemos afirmar que, em 1808, causava impacto aos visitantes que aqui chegavam, sobretudo com a precoce verticalização da Cidade Baixa, o que pode ser comprovado pelo frontispício de Vilhena, sendo, inclusive, mais importante que o Rio de Janeiro”
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Vilhena dedicou suas cartas ao Príncipe D. João (futuro D. João VI). O Príncipe, ao que parece, não leu a obra e a  remeteu ao Conde de Linhares, que também não  deu a ela a devida atenção, guardando-a em sua biblioteca. Com a vinda da família real para o Brasil, o livro foi trazido para o Rio de Janeiro e continuou ignorado até sua descoberta no início do século XIX.
Em 1917, alguns pesquisadores baianos descobriram a obra de Vilhena na Biblioteca Nacional. A Academia de Letras da Bahia chamou a atenção para esta descoberta, fazendo com que o Governo da Bahia a republicasse em 1921. Braz do Amaral debruçou-se sobre o assunto, recolhendo as poucas informações que hoje possuímos sobre Vilhena.
Para Emanuel Araújo, Vilhena “retratou uma sociedade escorregadia, difícil de entender, onde conviviam opulência e miséria, burocracia venal e intelectuais idealistas, inércia estimulada pela rigidez da tradicional ordem estabelecida, administrativamente consagrada, e impulsos de mudança radical, de rompimento, de renovação total”.
Vilhena morreu em Salvador, em 1814, estando sepultado no convento de Santa Tereza no Hábito do Carmo.
Em 1969, a obra, intitulada “Recopilação de Notícias Soteropolitanas e Brasílicas e Cartas de Vilhena” foi mais uma vez republicada, em três volumes, com comentários de Braz do Amaral.
Os manuscritos originais, datados de 1802, encontram-se na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro.
Como afirma Günter Weime, “dentre os cronistas do Brasil colonial, Vilhena foi um dos mais competentes e, mesmo assim, muito pouco conhecido”.
Ao que parece, Capistrano de Abreu foi o primeiro a lhe dar o devido valor. Para ele as Cartas de Vilhena são um dos melhores  trabalhos sobre o Brasil Colônia. Apesar disto, poucos historiadores prestaram a Vilhena e suas cartas, significativa atenção.
 
 
 
 
 


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