ANTIGA IGREJA DA AJUDA, EM SALVADOR
(INÍCIO DO SÉCULO XIX)
Luis dos Santos Vilhena nasceu em 1744, na vila de São Tiago de Cassino, Portugal e chegou em
Salvador no ano de 1787.
Serviu ao exército por dez anos, em Setúbal, aproveitando as
horas vagas para estudar grego e latim. Em 1785, após deixar o exército, candidatou-se
à regência da cátedra de grego. Foi aprovado mas não tomou posse do cargo pelo fato de ter ficado doente.
Recuperado, assumiu a cátedra na Cidade do Salvador, onde ensinou grego de 1787
a 1799. Neste último ano a cátedra foi extinta e ele foi aposentado com metade dos vencimentos.
Além de professor de
grego, Vilhena inventou mecanismos para melhorar o desempenho de engenhos. Em
1802, publicou suas famosas cartas com informações sobre a vida e os costumes
de Salvador. Escreveu também sobre Porto Alegre, Rio de Janeiro e o Brasil, em
geral. São vinte e quatro cartas “escritas, segundo ele, pelo mais humilde dos
vassalos, professor régio da língua grega na cidade do Salvador”, e endereçadas
a dois amigos fictícios, Filipono e Patrifilo. As vinte primeiras datam de 1798
a 1799. Dezesseis referem-se à Bahia, sete descrevem outras capitanias e a
última preconiza um novo programa de política colonial.
Como lembra Pedro de Almeida Vasconcelos, Salvador naquela
época, embora tivesse perdido sua condição de capital do Brasil, “continuava
como principal porto e principal cidade da colônia até o início do século XIX”.
De acordo com o historiador inglês Southey, “com a transferência da sede do
governo para o Rio de Janeiro outra nenhuma perda, além da dignidade, sofreu
São Salvador... continuando a ser uma das maiores, mais opulenta e florescentes
cidades do Novo Mundo”. A cidade, afirma Pedro de Almeida Vasconcelos, “pelas
informações disponíveis podemos afirmar que, em 1808, causava impacto aos
visitantes que aqui chegavam, sobretudo com a precoce verticalização da Cidade Baixa,
o que pode ser comprovado pelo frontispício de Vilhena, sendo, inclusive, mais
importante que o Rio de Janeiro”
*
Vilhena dedicou suas cartas ao Príncipe D. João (futuro D.
João VI). O Príncipe, ao que parece, não leu a obra e a remeteu ao Conde de Linhares, que também
não deu a ela a devida atenção, guardando-a
em sua biblioteca. Com a vinda da família real para o Brasil, o livro foi
trazido para o Rio de Janeiro e continuou ignorado até sua descoberta no início
do século XIX.
Em 1917, alguns pesquisadores baianos descobriram a obra de
Vilhena na Biblioteca Nacional. A Academia de Letras da Bahia chamou a atenção
para esta descoberta, fazendo com que o Governo da Bahia a republicasse em
1921. Braz do Amaral debruçou-se sobre o assunto, recolhendo as poucas
informações que hoje possuímos sobre Vilhena.
Para Emanuel Araújo, Vilhena “retratou uma sociedade escorregadia,
difícil de entender, onde conviviam opulência e miséria, burocracia venal e
intelectuais idealistas, inércia estimulada pela rigidez da tradicional ordem
estabelecida, administrativamente consagrada, e impulsos de mudança radical, de
rompimento, de renovação total”.
Vilhena morreu em Salvador, em 1814, estando sepultado no
convento de Santa Tereza no Hábito do Carmo.
Em 1969, a obra, intitulada “Recopilação de Notícias
Soteropolitanas e Brasílicas e Cartas de Vilhena” foi mais uma vez republicada,
em três volumes, com comentários de Braz do Amaral.
Os manuscritos originais, datados de 1802, encontram-se na
Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro.
Como afirma Günter Weime, “dentre os cronistas do Brasil
colonial, Vilhena foi um dos mais competentes e, mesmo assim, muito pouco
conhecido”.
Ao que parece, Capistrano de Abreu foi o primeiro a lhe dar
o devido valor. Para ele as Cartas de Vilhena são um dos melhores trabalhos sobre o Brasil Colônia. Apesar
disto, poucos historiadores prestaram a Vilhena e suas cartas, significativa
atenção.
Muito bom o texto! Parabéns!
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