MINELVINO FRANCISCO SILVA
Minelvino Francisco Silva, poeta popular, cordelista,
fotógrafo, tipógrafo e xilógrafo, nasceu na Fazenda Olhos D´Água, no povoado de
Palmeiral, município de Mundo Novo, no dia 29 de novembro de 1926.
Viveu a infância em Jacobina, onde trabalhou como
garimpeiro. Mudou-se, depois, para Itabuna, onde teve seu
primeiro contato com a literatura de cordel.
Versejou aos vinte e
dois anos de idade. Sua primeira sextilha, segundo a professora Edilene Matos,
foi improvisada durante o I Congresso Nacional de Trovadores e Violeiros. Dedicada
a João Martins de Ataíde, a sextilha dizia o seguinte: “Até eu cheguei na hora
/ Como humilde trovador / Abracei ele, dizendo: / Parabéns meu Professor / Por
todas as suas obras /de grandioso valor”.
Montou uma gráfica em sua residência e imprimiu seus livretos e xilogravuras, vendendo o produto de
seu trabalho na feira livre e nas praças da cidade. Não fazia segredo disso, e
dizia: “Eu mesmo escrevo a estória / eu mesmo faço o clichê / eu mesmo faço a
impressão / Eu mesmo vou vender / e canto na prça pública / para todo mundo ver”.
Depois, comprou para uma impressora elétrica. Em 1979, sofreu um acidente. Perdeu três dedos mas
continuou no ofício, dizendo: “No dia dez de outubro / Compus uma oração /
Botei na máquina impressora / Para fazer a impressão / Em vez de imprimir o
papel / Errei e imprimi a mão”.
Imprimiu também em tipografias e editoras de terceiros, como
a Tipografia São Francisco, em Juazeiro do Norte (Ceará), a Luzeiro e a
Prelúdio, em São Paulo.
Poeta popular e xilógrafo talentoso, tanto no versejar
quanto no fazer xilogravuras, compôs, sobretudo, sextilhas e setilhas. “Viveu
intensamente o universo do cordel, passando por todas as modalidades e deixando
a marca da qualidade e do rigor em tudo o que escreveu”.
Seu primeiro folheto data de 1949,- “A enchente de Miguel
Calmon Calmon e o desastre do trem de Água Baixa”. Depois, foram dezenas,
centenas. No total, cerca de mil.
Ardoroso defensor da
poesia popular, lutou para que os vereadores de Itabuna apresentassem proposta dando a denominação de Rua dos
Trovadores a uma dos logradouros de Itabuna. Outra batalha que empreendeu foi a
da aposentadoria para os trovadores.
Muito religioso, grande devoto de Bom Jesus da Lapa, adotou
para si mesmo a alcunha de “O Trovador
Apóstolo”.
Sua produção, por demais fecunda, chegou a cerca de um
milheiro de folhetos, ilustrados com belas xilogravuras. Dentre os títulos mais
famosos destacam-se: “João acaba mundo e
a serpente encantada”, “O gigante quebra osso”, “Maninha e a machadinha”, “O
Filho de João acaba mundo”, “ABC dos tubarões”, “Debate de Lampião com São
Miguel”, “O Cangaceiro do Nordeste”, “História do touro que engoliu o fazendeiro”
, “A mulher de sete metros que apareceu em Itabuna”, dentre outros.
Em 1980, recebeu o Prêmio Literatura de Cordel, promovido
pelo Núcleo de Pesquisa e Cultura da Literatura de Cordel, durante as
comemorações do centenário de João Martins de Ataíde, quando concorreu com o
folheto “Vida, profissão e morte de João Martins de Ataíde”.
Conseguiu o reconhecimento nacional. Ficou famoso. Fez uma
exposição no Museu do Folclore, no Rio
de Janeiro, e teve o seu nome incluido na “Antologia Baiana de Literatura de
Cordel”, organizada pela Secretaria de Cultura e Turismo do Estado da Bahia.
Faleceu em 1999, no dia de seu aniversário, na mesma casa
onde viveu em Itabuna, deixando grande número de amigos e admiradores.
Minelvino escreveu e publicou sua auto-biografia, começando assim:
“Primeiro peço a Jesus / E a Maria Concebida / Pra me darem
inspiração / Nesta jornada comprida / Pra escrever aos leitores / Os traços da
minha vida
Olhos D´Água de Bel[em / Bem perto do Palmeiral / Vinte e
nove de novembro / Por ordem celestial / Do ano de 24 (1924) / Eu vim ao mundo
afinal
Município Mundo Novo / Em nosso estado baiano / Os meus pais
do mesmo estado / Cada qual com o mesmo plano / Sábios por acreditar / Em nosso
Pai Soberano
Mudamos pras Alagoas, Bahia / E de lá pra Jacobina /
Trabalhei bastante em ouro / E na lavra diamantina, / Criei=me naquelas terras
/ Vendo a verdosa campina
Escola enquanto criança / Não é bom nem se falar / Porque
meu pai era pobre / Não podia me educar, / Nem sequer uma cartilha / Ele podia
comprar
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