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Antônio Pacífico Pereira nasceu
em 5 de junho de 1846 na cidade de Salvador, sendo seus pais Victorino José
Pereira e Carolina Maria Franco Pereira.
Após os estudos preparatórios,
realizados em sua cidade natal, ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia,
pela qual foi diplomado em 1867.
Foram seus colegas de turma:
Augusto César Torres Barrense, Aprígio Martins Menezes, Antônio Celestino
Sampaio, Jayme Soares Serva, Manoel Ignácio Lisboa e Ulysses Leonésio
Pontes.Todos, os quais, como estudantes de medicina, participaram do Serviço de
Saúde do Exército, durante a Guerra do Paraguai (4).
Antônio Pacífico Pereira foi Opositor,
por concurso, da Secção Cirúrgica, em 1871; concorrente (aprovado e não
nomeado) à cadeira de Patologia Externa (1874); lente catedrático de Anatomia
Geral e Patológica, em 1882; lente de Histologia, em 1882.
Diretor de Saúde Pública
Estadual.
Aluno laureado, visitou, em
várias oportunidades, o Velho Mundo, onde realizou estudos médicos nas
principais capitais do continente.
“Humanista e competente clínico,
e tendo a medicina como verdadeiro sacerdócio, dedicava-se, exclusivamente, aos
seus doentes, que dele recebiam os cuidados primorosos de sua alta capacidade e
a confiança que sabia impor através do trato ameno e da dedicação que
consagrava aos enfermos, que tinham a fortuna de tê-lo à sua cabeceira” (3).
Colaborou em vários jornais
leigos e científicos, sobretudo na “Gazeta Médica da Bahia”, da qual foi
fundador, diretor e principal incentivador, durante mais de meio século.
Por duas vezes foi diretor da
Faculdade de Medicina da Bahia. A primeira, em 1884, como diretor-substituto. A
segunda, como diretor eleito, de 1895 a 1898, quando renunciou, por motivos
políticos.
Durante a Guerra de Canudos,
transformou a Faculdade em hospital, adaptando gabinetes e salas de aula em
enfermarias, de modo a atender 521 pacientes, dos quais apenas 4 faleceram.
“Anatomista, cirurgião,obstetra,
clínico geral, sanitarista, professor de vaias disciplinas, humanista, enfim,
um sábio, Pacífico Pereira de plena justiça há merecido o título de “Preceptor
Brasilae”, que lhe foi outorgado por congresso, realizado no Rio de Janeiro, em
1922” (1).
Revela Antônio Simões: “As grande
e excepcionais personalidades podem por vezes apresentar certos tiques.
Pacífico, não escapou. Ele manifestava um piscar freqüente de olhos que lhe
valeu em certa oportunidade um ligeiro embaraço, quando viajava num dos bondes
da Linha Circular.
Olhando, descuidadamente, para o
condutor do veículo, em que viajava, o mestre batera a pálpebra por algumas
vezes, e o condutor que tinha uma moça nas suas proximidades pensou que ele,
Pacífico, quisesse pagar a passagem da jovem desconhecida... ” (3)
O grande médico, um dos maiores
do Brasil, faleceu em Salvador, no dia18 de novembro de 1922.
FONTES BIBLIOGRÁFICAS:
1. Magalhães
Neto, José Maria de – Discurso de Posse. Anais da Academia de Medicina da
Bahia. Volume II, junho de 1979.
2. Sá de
Oliveira, Eduardo de – Memória Histórica da Faculdade de Medicina da Bahia,
concernente ao ano de 1942. Salvador, 1992.
3. Simões,
Antônio – Pacífico Pereira. Anais da Academia dda Bahia. Volume VI,
julho de 1985.
4. Tavaes-Neto,
José – Formados de 1812 a 2008 pela Faculdade de Medicina da Bahia. Feira de
Santana, 2008.
COMO NASCEU A ESCOLA TROPICALISTA
BAIANA
(Extraído do Dicionário
Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil(1832-1930) Casa de Oswaldo
Cruz/Focruz –http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br)
*
A formação da Escola Tropicalista
Baiana partiu das iniciativas dos médicos estrangeiros radicados na Província
da Bahia - Otto Edward Henry Wucherer, de descendência
luso-germânica, John Ligertwood Paterson, de origem escocesa e José
Francisco da Silva
Lima, português. Com base em conhecimentos médicos europeus, as
investigações realizadas por esse grupo seriamexpressão das novas disciplinas
que surgiam durante o século XIX (anatomi ia patológica, parasitologia e
bacteriologia). Contrapunham-se, assim, ao en sino médico oficial, representado
na época pela Faculdade de Medicina da Bahia e pela Faculdade de Medicina
do Rio de Janeiro, que ainda fundamentavam-se na teoria miasmática
para explicarem a etiologia das doenças, pres supondo que o solo produzia
emanações causadoras de doenças que acome tiam as populações. O grupo
localizado na cidade de Salvador, Bahia, acaba va, assim, por desafiar
atradição do ensino e da prática médica local baseada na reprodução do saber
médico europeu, principalmente de origem francesa, desvinculado das singularidades da realidade
brasileira (PEARD, 1997 e
997BARROS, 1998). Lycurgo de Castro Santos Filho (1991), assinala que a
medicina brasileira durante o século XIX,
desde a fundação das escolas de cirurgia em 1808, se
caracterizou pela observação clínica, como no século anterior. Neste
sentido, destaca os trabalhos dos tropicalistas" da Bahia que teriam apontado um novo rumo, o da
pesquisa da patologia, considerando-os predecessores da medicina experimental,
que se
firmaria no Brasil a partir do
médico sanitarista Oswaldo Gonçalves Cruz
e do Instituto Soroterápico
Federal, no Rio de Janeiro, no limiar do século XX.
O historiador Flávio Edler (2001)
observou que a Escola Tropicalista Baiana segundo esses autores teria
apresentado uma trajetória singular no panorama das instituições médicas do período por desenvolver
estudos baseados em disciplinas
do ramo das ciências naturais que só viriam a ser exploradas
a partir do final
do século XIX, com a institucionalização da
medicina fundamentada nas teorias do cientista francês Louis Pasteur (1822-1895).
Edler (2001) questionou essa visão, considerando que
desde a criação da Sociedade de
Medicina do Rio de Janeiro em 1829, as elites médicas, parte formada pelas
faculdades de medicina do Rio de Janeiro e da Bahia, já vinham desenvolvendo pesquisas
no âmbito da anatomoclínica e da higiene voltando-se
para alguns ramos
das ciências naturais como a botânica, a climatologia, a metereologia,
a topografia. Essas pesquisas não
deixavam de buscar as causas das doenças
próprias à nossa realidade climá-tica,"na identificação dos agentes
deletérios ambientais (...) e na
adequação das medidas profiláticas propugnadas pela Higiene às condições
nacionais" As primeiras reuniões da denominada Escola Tropicalista Baiana,
ocorreram na residência de John Ligertwood Paterson, sendo quinzenais e
noturnas. Posteriormente, as sessões se efetuaram alternadamente na casa de cada um dos três. Inicialmente além
desses médicos fundadores, o ccom a assistência de mais quatro
facultativos: o cirurgião Manul Maria Pires Ca ldas, o clínico Ludgero
Ferreira e os professores da Faculdade de Medicina da Bahia Antônio José Alves
(pai do poeta Castro Alves e professor
de cirurgia) e Antônio Januário de
Faria (professor de clínica médica). Participavam ainda do grupo, dois
médicos estrangeiros: Thomas Wright Hall, que trabalhava com a comunidade
britânica, e Alexander Ligertwood Paterson, irmão de John Ligertwood Paterson.
Nessas reuniões, discussões científicas eram baseadas na anatomia patológica e no
uso pioneiro de mi- croscópio no Brasil. Mais tarde, alguns estudantes da Faculdade
de Medi- cina da Bahia como Antônio Pacífico Pereira (1846-1922);
seu irmão, Ma- nuel Victorino Pereira (1853-1902) e Raimundo
Nina Rodrigues (1862-1906) integrara-se à Escola Tropicalista Baiana,
atraídos pela crítica à medicina ocidental
tra tradicional e pelas pesquisas originais desenvolvidas pelo grupo.
Embora alguns professores da
Faculdade de Medicina da Bahi participassem de suas atividades, os membros
fundadores não conseguiram se
integrar ao corpo docente dessa instituição de ensino. Portanto, a prática e ensino dessa medicina eram exercidos
informalmente no Hospital da Santa Casa da Mise- ricórdia da Bahia, e a
divulgação dos estudos realizados pelo grupo era feita através do periódico Gazet a
Médica da Bahia, lançado em jde 1866.
O nascimento da chamada Escola
Tropicalista Baiana poderia ser traçado por meio da sugestão de John Ligertwood Paterson, como
um encontro informal entre quatorze médicos instalados em Salvador, que se
reuniram com o intuito dediscutir assuntos de
interesse clínico, bem como a última literatura médica. As discussões enfocavam os casos
mais típicos das doenças tropicais da região. Para investigar esses distúrbios, os médicos
fizeram uso das mais avançadas ferramentas da medicina européia como
novos métodos clínicos baseados em medidas e aplicados pela fisiologia, o uso
da química na aná- lise de corpos fluidos, e das novas disciplinas de
parasitologia e microscopia. Embora não tenham recebido apoio oficial nem fundos para a
realização de seus
trabalhos, o grupo dos "tropicalistas" conseguiram
tornar-se uma importante força
inovadora na Bahia
e na medicina brasileira (PEARD, 1997). Isto de certa
forma, foi reconhecido por alguns cientistas brasileiros mais tarde como
Carlos Ribeiro Justiniano Chagas, parasitolo- gista e discípulode Oswaldo Cruz. Ao tomar
posse como professor hono -rário na
Faculdade de Medicina da Bahia em 13 de fevereiro de 1924, Cha gas ressaltou em
discurso a importância das influências
recebidas da Escola Tropicalista Baiana nos seus
estudos (TORRES, 1946). Chagas tornara-se conhecido pela descoberta da
doença produzida pelo Trypanosoma cruzi, que foi designada em sua
homenagem de Doença de Chagas.
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