ODORICO TAVARES
Odorico Montenegro Tavares da
Silva, mais conhecido como Odorico Tavares, jornalista, poeta, escritor e
colecionador de arte, nasceu em Timbaúba, Pernambuco, em 1912.
Diplomado em Direito pela
Faculdade de Direito do Recife, iniciou a carreira de jornalista no “Diário de
Pernambuco”, dos “Diários Associados”.
Em 1933, fundou, com o jornalista
Aderbal Jurema, a revista “Momento” e no ano seguinte publicou, com o mesmo Aderbal
Jurema, o livro Vinte e Seis Poemas. Em 1939, lançou seu segundo livro de
poemas, A Sombra do Mundo.
Em 1942, foi convidado por Assis
Chateaubrien para dirigir os Diários Associados na Bahia, de cujo conglomerado
faziam parte a Rádio Sociedade da Bahia e os jornais Diário de Notícias e O
Estado da Bahia. Em Salvador, foi logo absorvido pelo grupo de
escritores, artistas e intelectuais soteropolitanos. No Diário de Notícias, além
de editar o suplemento cultural, assinou a coluna diária Rosa dos Ventos, autêntica
vitrina cultural e artística da Bahia.
Promoveu diversos eventos
artísticos e literarios, dentre os quais destamos:
1) A primeira exposição de arte
moderna brasileira na Bahia, com trabalhos de Lasar Segall, José Pancetti, Di
Cavalcanti, Bonadei, Santa Rosa, Oswaldo Goeldi, Tarsila do Amaral e Alfredi
Volpi.
2) A publicação do livro Imagens da
Terra e do Povo, ilustrado por Caribé e premiado com medalha de ouro na 1ª Bienal
do Livro e Artes Gráficas de São Paulo, em
1961.
3) A reportagem alusiva ao
Centenário da Guerra de Canudos, fruto da reconstrução, que fez com Pierre
Verger, do percurso de Euclides da Cunha nos sertões da Bahia.
5) O apoio à criação do Museu de
Arte Moderna da Bahia, projetado e dirigido po Lina Bo Bardi, e do Museu de
Arte Sacra da Bahia (inaugurado pela
Universidade Federal da Bahia).
6) A fundação da TV Itapoan,
primeira emissora de televisão da Bahia, com notável incentivo aos jovens
artistas Mário Cravo Júnior, Carlos Bastos, Genaro e Raimundo de Oliveira.
7) A publicação dos livros Os Caminhos
de Casa-Notas de Viagem, Meus Poemas aos Meus Pintores e Livro de Luciano
(dedicado ao neto Luciano Tavares).
8) A criação do Teatro Vila Velha, em
Salvador, e do Museu Regional de Feira de Santana.
Como fruto de seu trabalho, foi eleito, em 1971, para a
Academia de Letras da Bahia e o Governo da Bahia criou o
Prêmio Odorico Tavares para o incentivo das artes plásticas e deu o seun nome a um importante colégio da rede pública de ensino.
Amigo particular do pintor José
Pancetti, com ele manteve intensa
correspondência. Pancetti. na expectativa de ter sua biografia escrita por
Odorico Tavares, entregou seu diário e vários cadernos de anotações, além de
pintar o retrato da esposa de Odorico e
de sua filha, Maria Tavares.
Amante das artes plásticas,
reuniu preciosa coleção de obras da
imaginária religiosa dos séculos XVII e XVIII, mobiliário dos séculos XVIII e
XIX, pinturas, gravuras e desenhos de Cândido Portinari, Di Cavalcanti,
Djanira, Segall, Volpi, Pancetti, Antônio Bandeira, Guignard, Manabu Mabe,
Cícero Dias, Pablo Picasso, Joan Miró, Henri Malisse, Modesto Cuixart e Georges
Roult. O arquiteto Diógenos Rebouças projetou uma casa para abrigar a coleção que, além das obras
citadas, reune albuns do artista, fotografias, poemas, cartões-postais e
reportgens.
Odorico Tavares faleceu em
Salvador, no ano de 1980.
FONTES: Wipédia, a enciclopédia livre e a Enciclopédia Itaú Cultural.
Odorico Tavares
Limpem o espelho.
Se quiserem, não mexam na mobília.
Mas limpem o espelho:
Vai haver a volta a. casa paterna.
Verdade é que não sei se tudo pode ficar como dantes:
se os sapatos ainda me caberão,
se as roupas apertadas ficarão,
se nos livros as antigas leituras estarão.
Mas limpem o espelho.
O rio pode muito bem ter desviado o seu curso,
e não encontrarei mais o local dos banhos à tardinha.
As pedras das ruas possivelmente não terão mais as marcas dos meus pés.
E nenhum indivíduo me indicará os caminhos conhecidos.
As árvores mesmo, se não são outras, mostrarão velhos troncos irreconhecíveis
Perguntarei inutilmente pelos companheiros:
Antônio? Frederico? Baltazar?
Oh! vozes que não me respondem! Amigos que jamais verei!
Decerto terei pelo menos as vozes dos pais ressoando de leve pelas paredes.
Por isso, limpem o espelho,
porque, apesar de todos os disfarces,
a imagem da criança que se foi há muito tempo e hoje voltou
se refletirá nítida e forte com a pureza e o encanto dos seus
primeiros sorrisos.
Se quiserem, não mexam na mobília.
Mas limpem o espelho:
Vai haver a volta a. casa paterna.
Verdade é que não sei se tudo pode ficar como dantes:
se os sapatos ainda me caberão,
se as roupas apertadas ficarão,
se nos livros as antigas leituras estarão.
Mas limpem o espelho.
O rio pode muito bem ter desviado o seu curso,
e não encontrarei mais o local dos banhos à tardinha.
As pedras das ruas possivelmente não terão mais as marcas dos meus pés.
E nenhum indivíduo me indicará os caminhos conhecidos.
As árvores mesmo, se não são outras, mostrarão velhos troncos irreconhecíveis
Perguntarei inutilmente pelos companheiros:
Antônio? Frederico? Baltazar?
Oh! vozes que não me respondem! Amigos que jamais verei!
Decerto terei pelo menos as vozes dos pais ressoando de leve pelas paredes.
Por isso, limpem o espelho,
porque, apesar de todos os disfarces,
a imagem da criança que se foi há muito tempo e hoje voltou
se refletirá nítida e forte com a pureza e o encanto dos seus
primeiros sorrisos.
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